Juventude Desempregada
*Eliseu Padilha
Com base em estudo divulgado pelo IPEA ,
a mídia nacional chamou nossa atenção para o gravíssimo fato de que o
desemprego entre os jovens, de 15 a 24 anos, é 3,5 vezes o desemprego
dos adultos.
O fato dos jovens serem preteridos no mercado de
trabalho merece uma profunda reflexão e providências para a reversão do
preocupante quadro.
Neste mundo em que a informação e o mercado
estão globalizados, as causas, conseqüências e as soluções para este
fenômeno brasileiro podem ser enunciadas assim:
I – CAUSAS – A falta de qualificação, a falta de conhecimento específico e geral são as causas do desemprego dos jovens.
Em
nosso país, a qualificação para o trabalho é papel que ficou reservado
para as escolas. O ser humano é produto da família, da escola e do
convívio social, mas a qualificação profissional é papel da educação, da
escola.
O ensino fundamental, até o nono ano, é obrigatório no Brasil. Em tese, todos os brasileiros devem no mínimo cursá-lo.
Ocorre
que nosso ensino fundamental tem uma matriz curricular que atenderia o
mercado de trabalho da primeira metade do século passado. Formamos
jovens para um mercado que não existe e o mercado existente exige
qualificação que o jovem não tem.
O Estado forma, atualmente,
analfabetos funcionais. Portanto a maior causa do desemprego dos jovens é
o atraso e a deficiência do ensino obrigatório, por falta de visão e de
planejamento estratégico estatal.
II – CONSEQUÊNCIAS: A falta de
emprego oportuniza a participação dos jovens em fatos que todos
gostaríamos de afastar definitivamente de nosso quotidiano. Cito o fato
de que a maioria dos acusados em investigações policiais e processos
criminais são jovens.
No tráfico de drogas, um dos grandes males dos centros urbanos, a maioria esmagadora dos envolvidos é composta por jovens.
O desemprego tem tudo a ver com estas "outras ocupações" dos nossos jovens.
Devemos
combater o desemprego de per si, mas o desemprego dos jovens tem que
ser combatido com redobrada força e dedicação, pois suas conseqüências
são muito mais maléficas e traumáticas. Colocam muitas interrogações
sobre o nosso futuro como nação.
III – SOLUÇÃO: Estamos vivendo,
presentemente, a civilização do conhecimento. O mercado globalizado vive
e se movimenta com base na competitividade e na produtividade. Vale
dizer, o saber específico é determinante.
Sistema de ensino que
forma – no ensino obrigatório – analfabetos funcionais, poderá garantir
espaço no mercado globalizado que exige competitividade e produtividade?
Não! A persistir o atual sistema de ensino, formaremos pessoas para um
mercado de trabalho que não mais existe. Condenaremos nossos jovens ao
desemprego, ao desencanto, ao descaminho.
Cheguei a tal conclusão
há anos e, movido por ela, propus a Emenda Constitucional nº 232/2004,
através da qual busco tornar obrigatório o ensino até o nível médio e neste a terminalidade técnica profissionalizante.
Isto
foi o que fizeram países da Europa a Coréia do Sul e mais recentemente,
aqui na América do Sul, o Chile. O surto de ocupação dos jovens
técnicos e de desenvolvimento em tais Estados falam por si só. Como
vivemos a civilização do conhecimento, sem este é semi-impossível o
ingresso no mercado de trabalho.
Outro argumento, em favor da
obrigatoriedade do ensino técnico, é o de que garantindo o trabalho do
técnico este na semi-totalidade buscará e custeará sua graduação
superior, pré-requisito a ser suprido pela maioria da população para nos
libertarmos dos grilhões que nos prendem ao subdesenvolvimento e ao
terceiro mundo. Só seremos uma nação desenvolvida, só ingressaremos no
grupo de nações do primeiro mundo, no dia em que o conhecimento
equivalente ao nível superior estiver sob o domínio da maioria da
população.
Urge garantir a nossos jovens a formação técnica profissionalizante.
*Deputado federal, presidente da Fundação Ulysses Guimarães Nacional e secretário-geral do PMDB/RS