Silêncio, memória, resistência: O Muro de Berlim e os escritores alemãesEntre o aplauso e a denúncia: escritores diante do Muro de BerlimSilêncio, memória, resistência: O Muro de Berlim e os escritores alemães Neste dia 3 de outubro comemoram-se os 35 anos da Reunificação Alemã, cujo impulso inicial e decisivo foi a Queda do Muro de Berlim. Na época, como estudante, eu estava lá, mais precisamente em Leipzig, cidade localizada ao sul da Alemanha, a 190 km de Berlim, que teve um papel crucial nesse processo. Foi em Leipzig que começaram as manifestações contra o regime do SED, o partido governante da Alemanha Oriental. Cheguei em Leipzig em agosto, cerca de três meses antes desse acontecimento histórico de enorme relevância, cujos efeitos ainda são sentidos hoje, como podemos observar na atual Guerra da Ucrânia – consequência indireta da dissolução da antiga União Soviética. No meu primeiro dia de aula de alemão no Herder-Institut – onde, como bolsista do governo da Alemanha Oriental, eu deveria cursar um ano de alemão antes de ingressar na Universidade Humboldt de Berlim – cada aluno recebeu um livro em seu idioma. O livro, intitulado “A RDA apresenta-se”, era uma obra de propaganda oficial que exaltava a Alemanha Oriental, descrita como a mais próspera nação comunista que já existiu. O livro começa com palavras de Erich Honecker, presidente do país de 1976 até sua renúncia em 1989: “Graças ao desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção socialistas, nosso povo alcançou um padrão de vida jamais visto. Desemprego é para nós um termo de outro mundo. (...) A preservação da paz é nossa principal tarefa, garantindo assim um futuro seguro”. A obra aborda temas como história, política externa, economia, política social, educação, saúde e cultura do país. Confesso que nunca li o livro inteiro. Como toda peça de propaganda, é árido e pouco condizente com a realidade, que era marcada por censura, perseguições políticas e uma economia em ruínas – algo que qualquer pessoa atenta, como eu, logo perceberia. Assim, mesmo sendo um militante de esquerda no Brasil, acabei me decepcionando com o socialismo. Hoje, peguei o livro da estante para consultá-lo ao escrever este artigo. Ao folhear o primeiro capítulo, que trata da história, busquei alguma menção ao Muro de Berlim ou uma justificativa plausível que os líderes do socialismo poderiam ter dado para sua construção. Tudo o que encontrei foi o seguinte trecho: “A fronteira aberta com a RFA (República Federal da Alemanha, ou Alemanha Ocidental) e Berlim Ocidental causou enormes prejuízos econômicos e políticos à construção socialista na RDA (República Democrática Alemã). Em 13 de agosto de 1961 (data de início da construção do muro, N. do A.), o Exército Nacional Popular, as Milícias Operárias e outras forças armadas da RDA tomaram medidas para controlar a fronteira, até então aberta. Essa ação foi coordenada com os outros Estados do Pacto de Varsóvia.” E é só isso. Nenhuma menção direta ao Muro. Na época, a narrativa oficial afirmava que o Muro era uma “barreira de proteção” para afastar o “inimigo de classe” – o fascismo, representado pelos governos dos Estados Unidos e da Alemanha Ocidental. Tanto que, no dia de sua construção e nos meses que se seguiram, as rádios da RDA o celebraram com músicas de propaganda, pois ele simbolizava o fim das fugas em massa. E o Berliner Ensemble, teatro fundado por Brecht, apresentou a peça Histórias do Dia Treze, uma exaltação ao Muro. Diversos intelectuais da RDA defenderam as medidas de 13 de agosto, alegando que, com a fronteira fechada, haveria mais liberdade e democracia no país. Mas qual era a verdade? Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o partido SED, com o apoio das forças de ocupação soviéticas, impôs uma ditadura na Alemanha Oriental. Grande parte da população rejeitava o novo sistema político e econômico, o que desencadeou um crescente movimento de fuga a partir do final dos anos 1940. As motivações para o êxodo variavam entre razões políticas, econômicas e pessoais. Até agosto de 1961, a RDA já havia perdido aproximadamente um sexto de sua população, cerca de quatro milhões de pessoas. Com o fechamento da fronteira entre a RDA e a Alemanha Ocidental em 1952, o caminho direto para a fuga tornou-se cada vez mais perigoso, levando muitos a escaparem através das fronteiras setoriais de Berlim, que ainda estavam abertas, servindo como último refúgio para quem tentava alcançar o Ocidente. Então, em 13 de agosto de 1961, o SED tomou uma medida drástica: cercou Berlim Ocidental com arame farpado e, em seguida, começou a erguer muros, na tentativa de conter o êxodo em massa e consolidar seu poder. Mesmo com o Muro erguido, as tentativas de fuga continuaram, levando o governo a reforçar continuamente as barreiras fronteiriças até sua derrubada, em 1989. O início do fim Na Conferência de Helsinque, em 1975, o SED aceitou formalmente o princípio da liberdade de circulação e viagem, embora sem intenção real de colocá-lo em prática. A partir desse ponto, um número crescente de cidadãos da RDA começou a solicitar a saída definitiva para a Alemanha Ocidental. Nos anos 1980, a oposição ao regime se intensificou, com críticas cada vez mais duras ao sistema político e social. A deterioração ambiental e a crise econômica aprofundaram o descontentamento popular, enquanto movimentos similares em outros países do bloco oriental, como o Solidarność, na Polônia, ganharam relevância. Com a ascensão de Mikhail Gorbachev ao poder na União Soviética em 1985, as reformas políticas no bloco socialista começaram a se materializar. Em 1988, Gorbachev abandonou a Doutrina Brejnev, permitindo maior autonomia política aos países do Pacto de Varsóvia. A Hungria deu início à abertura de suas fronteiras em maio de 1989, criando uma brecha na “Cortina de Ferro”. Ainda assim, a RDA resistia às reformas iniciadas pela União Soviética. No entanto, o aumento dos protestos populares, especialmente em Leipzig, e a onda de cidadãos fugindo do país em direção a Hungria forçaram o SED a fazer concessões, como a promessa de maior liberdade de viagem. Em 9 de novembro de 1989, após um mal-entendido sobre uma nova política de emigração, o Muro de Berlim foi derrubado, selando o destino da RDA. A literatura alemã e a Queda do Muro É impressionante a quantidade de escritores norte-americanos que abordaram os atentados de 11 de setembro em suas obras, como Don DeLillo, Jonathan Safran Foer, Michael Cunningham, Salman Rushdie, John Updike, Colum McCann e Cormac McCarthy. Esses autores refletem sobre a fragilidade da civilização, a perda, a desesperança, e exploram a atmosfera de desolação, além de preocupações com segurança e sobrevivência – temas que reverberam até hoje. Por outro lado, é curioso observar como a divisão da Alemanha, um dos eventos mais marcantes da segunda metade do século XX, raramente é tratada como tema central na literatura alemã. Entre as poucas exceções estão Der Mauerspringer (“O Saltador do Muro”), de Peter Schneider, e Der geteilte Himmel (“O Céu Dividido”), de Christa Wolf, cuja trama se desenrola durante a construção do Muro, entre 1960 e 1961, mas não faz menção direta a esse evento. É necessário reconhecer que, no lado oriental, havia uma vasta presença de referências indiretas ao Muro, especialmente nas obras de autores como Heiner Müller, Christoph Hein, Klaus Schlesinger e Günter Kunert. Afinal, o Muro, com sua realidade sombria e opressora – uma barreira de concreto reforçada com arame farpado, minas e torres de observação –, que atravessava Berlim e dividia a cidade em duas, era parte intrínseca do cotidiano dos cidadãos da Alemanha Oriental. Para eles, o Muro simbolizava a restrição da liberdade de expressão, a supressão da livre locomoção e a manifestação autoritária do poder do Estado. Lá, na intimidade, as pessoas podiam chamar o terrível objeto de ‘Muro’. No entanto, nos discursos oficiais e em outros contextos públicos, ele era referido como a ‘barreira de proteção antifascista’. Esses aspectos não passavam despercebidos aos escritores da época. Ainda que sujeitos à censura, eles encontravam formas sutis de abordar o assunto, insinuando criticamente a realidade opressora em suas obras, e os leitores mais atentos captavam essas mensagens implícitas. Esse cenário criava um dilema para os escritores da Alemanha Oriental. Enquanto alguns escritores, alinhados ao regime, recebiam amplo apoio estatal, em regimes autoritários a arte tem um papel claro: servir aos interesses do Estado. Mesmo assim, muitos escritores hesitavam em desafiar publicamente o governo, temendo as repercussões. Mas, por outro lado, havia uma formação completamente diferente da existente na Alemanha Ocidental ou em outros lugares livres. Tornar-se um escritor dissidente, alguém que ousasse desafiar o governo, era um ato que muitos hesitavam em realizar. Afinal, se rebelar publicamente contra o regime era como romper com “a casa dos pais”. Mesmo aqueles que manifestavam críticas o faziam com uma certa reserva: “Sou contra, mas espero que a situação melhore, que o sistema se torne mais livre.” Essa relutância tinha um motivo claro: rejeitar o Muro de Berlim publicamente ou questionar as políticas do regime poderia levar à proibição profissional. Criminalização, perseguição e punições severas aguardavam aqueles que ousassem se posicionar contra o Estado. Um exemplo clássico disso foi o caso do dramaturgo Heiner Müller. Em 1961, pouco depois da construção do Muro, Müller estreou a peça Die Umsiedlerin (“A Colonizadora”). No entanto, a obra foi imediatamente proibida, pois trazia críticas à coletivização forçada nas áreas rurais da RDA, uma política essencial do governo. A peça de Müller retratava os dilemas morais enfrentados pelos camponeses ao serem forçados a aderir às fazendas coletivas. O regime, no entanto, não estava interessado nessas nuances. Müller foi expulso da União dos Escritores, e durante os doze anos seguintes, nenhuma de suas obras foi encenada na Alemanha Oriental. Ele sentiu na pele o que significava viver em uma sociedade onde o Muro não apenas dividia o país fisicamente, mas também estreitava drasticamente os espaços de liberdade. O mais intrigante é que, quando o Muro foi construído, Müller e seus colegas, comunistas convictos, sentiram alívio. Eles acreditavam que o Muro era uma solução necessária para conter o êxodo populacional e garantir a estabilidade da RDA. Um exemplo é Volker Braun, que, em seus poemas, reflete sobre a construção do Muro de Berlim com certa ambiguidade. Ele sugere que, sob determinadas circunstâncias, a barreira poderia ter efeitos positivos, como evitar a guerra e controlar a fuga para o Ocidente. Um trecho de seus versos expressa essa ambiguidade: “Entre todos os enigmas: isso é / Quase a solução. Terrível / Segura, barreira de pedra...”. Braun ecoa a propaganda oficial da RDA, que retratava o Muro como uma “barreira antifascista”, defendendo que ele, de algum modo, trazia segurança e estabilidade. Müller, por outro lado, sempre crítico, mais tarde refletiu sobre as ilusões que ele e seus amigos comunistas tinham quando jovens. Naquela época, acreditavam que o Muro seria uma proteção necessária contra o êxodo da Alemanha Oriental e que, após sua construção, poderiam abordar os problemas do país de maneira “crítica e realista”. Contudo, essa visão otimista logo se chocaria com a realidade brutal do regime repressivo, que o Muro não só sustentava, mas também intensificava. O projeto melhor Apesar de todas as adversidades, para escritores como Johannes R. Becher, Louis Fürnberg, Stephan Hermlin, Anna Seghers e Kurt Barthel (Kuba), entre outros, os ideais comunistas e o progresso socialista na RDA ainda eram vistos como a alternativa superior, especialmente em comparação com o capitalismo da Alemanha Ocidental. Para esses autores, o projeto socialista representava a esperança de uma sociedade mais justa e igualitária, alinhada com suas convicções ideológicas. No entanto, essa visão pode ser considerada uma forma de miopia política, pois ignorava as repressões, limitações à liberdade e contradições que também caracterizavam o regime da RDA. O cientista e ativista dos direitos civis Jens Reich, em uma entrevista a Jacques Schuster, do Die Welt, questiona de forma incisiva: que tipo de “projeto melhor” é esse que deportou seu avô para a Sibéria, de onde nunca voltou, que expulsava filhos de pastores das escolas por pequenas trivialidades, e estudantes das universidades por simpatizarem com o levante húngaro de 1956? Além disso, sob o pretexto de proteger a democracia socialista, o regime mantinha a Stasi no encalço de qualquer crítico. Assim como Reich, alguns outros não mantiveram uma relação positiva com a RDA ou logo se desiludiram com o regime. Para Peter Schneider, o ponto de ruptura veio com a morte de Peter Fechter, um jovem de 18 anos alvejado enquanto tentava escapar para Berlim Ocidental. Testemunhas viram Fechter sangrar até a morte sem que guardas de fronteira ocidentais pudessem intervir. A poetisa Sarah Kirsch e os escritores Günter Kunert e Joachim Schädlich também se distanciaram da RDA, enfrentando represálias por parte do Estado. Os três acabaram expulsos do país após assinarem um protesto contra a expulsão de Wolf Biermann, poeta e compositor dissidente, que criticava abertamente o regime em suas canções e poemas. No lado ocidental Do lado ocidental, muitos escritores hesitaram em abordar a questão do Muro de Berlim, seja por receio de se alinharem à narrativa dominante ou por influência de suas próprias convicções ideológicas. Enquanto na RDA as referências ao Muro eram abundantes em poemas e peças de teatro, no Ocidente, a sua repercussão literária foi bastante limitada. Isso se deve, em parte, ao fato de que o impacto do Muro foi mais profundamente sentido pelos alemães orientais, enquanto no Ocidente a vida seguiu praticamente inalterada. Essa diferença de resposta literária reflete as realidades distintas vividas nas duas partes da Alemanha, destacando que o Muro não era apenas uma barreira física, mas também um divisor cultural e emocional entre ambos os lados. Além disso, muitos escritores ocidentais percebiam o tema da divisão alemã, e do Muro em particular, como algo associado à direita política, um terreno que evitavam explorar. Ao tratar do Muro, acabavam sendo vistos como confundindo as fronteiras ideológicas. O escritor britânico Ian McEwan, que também escreveu um romance sobre a divisão alemã, O Inocente, ilustra essa questão de forma mais clara. Segundo ele, havia dois motivos principais pelos quais os escritores ocidentais evitavam o tema da “divisão alemã”: um estético e outro político. O motivo estético era a crença de que a construção do Muro era um tema mais apropriado para jornalistas. O motivo político era que a maioria dos escritores alemães tinha inclinações à esquerda. Assim, ao escrever sobre o Muro, corriam o risco de serem vistos como ferramentas da CIA. Essa percepção, peculiar à Alemanha Ocidental, não existia em outros países do bloco oriental. Após a Queda do Muro Com a queda do Muro de Berlim em 9 de novembro de 1989, muitos escritores da Alemanha Oriental não perderam apenas seu público, mas também o tema central de suas obras. A nova realidade os deixou desorientados, sem encontrar de imediato uma linguagem capaz de expressar as mudanças que vinham ocorrendo, após décadas de censura e repressão. Autores como Christa Wolf, por exemplo, não conseguiram articular, de imediato, uma narrativa de libertação. Muito mais, alguns mantiveram uma certa lealdade à ideia de uma RDA reformada, o que resultou em severas críticas da opinião pública ocidental, que esperava um repúdio ao passado comunista e uma celebração da reunificação. Essa lealdade, visível em escritores como Thomas Brasch, Klaus Schlesinger e Heiner Müller, surpreendia por sugerir uma continuidade afetiva com o regime que os havia reprimido. Na Alemanha Ocidental, muitos escritores, incluindo Günter Grass, já haviam aceitado a divisão do país como uma parte inevitável da realidade política. Grass chegou a ver a divisão como uma “punição por Auschwitz”, embora essa interpretação seja considerada equivocada, já que a separação da Alemanha foi consequência direta da Guerra Fria, e não do Terceiro Reich. No entanto, escritores como Martin Walser se recusaram a aceitar a divisão e trataram do tema em suas obras, algo que merece destaque. A dificuldade que muitos autores alemães tiveram em lidar com a Queda do Muro pode estar relacionada à tendência histórica da literatura alemã de focar em temas de tragédia e infelicidade, em vez de celebrações de momentos de felicidade. Enquanto isso, os primeiros retratos literários do evento vieram de autores ocidentais, como Günter Grass, em seu romance Ein weites Feld, que abordava a reunificação com desconfiança, temendo que uma Alemanha unificada pudesse ressurgir com ambições militaristas e globais. Essa inquietação foi compartilhada por outros escritores, que lamentavam a perda da antiga República Federal. Em contraste, autores como Martin Walser e Walter Kempowski expressaram alívio e alegria com a reunificação, enquanto muitos escritores do leste lamentavam o fracasso da visão de uma RDA reformada. Atualmente, ao falarmos sobre autores da Alemanha Oriental, é mais provável que nos refiramos àqueles que começaram a ganhar destaque após a Queda do Muro, como Ingo Schulze e Thomas Brussig, do que aos escritores que já possuíam reputação durante a época da RDA. Isso levanta a questão: será que eles teriam conseguido desenvolver sua criatividade se o Muro ainda dividisse a Alemanha? Com o passar dos anos, a ideia de uma literatura alemã dividida se tornou cada vez menos relevante. A distinção entre a literatura do Leste e do Oeste tornou-se um capítulo da história literária, levando-nos à percepção de que hoje temos apenas uma única literatura alemã. Autores de Leipzig e Düsseldorf agora enfrentam as mesmas condições de criação. Sob essa perspectiva, a queda do Muro de Berlim, há 35 anos, foi um marco positivo para a literatura alemã, que deixou de ser uma exceção dentro do contexto social. A primeira obra literária do lado oriental a tratar da queda do Muro foi Helden wie wir (“Heróis como Nós”), de Thomas Brussig. Embora o autor empregue uma narrativa rápida, essa abordagem logo se revela um recurso do qual ele não consegue se desvencilhar ao longo do texto. A ênfase nos temas sexuais torna a narrativa repetitiva e cansativa, especialmente quando Brussig se detém em detalhes exagerados, como o tamanho do pênis do pai do protagonista. A ironia, que poderia ter sido um ponto forte do romance, perde força devido ao seu uso excessivo, tornando-se artificial e forçada. Outro livro que trata desse período é Adam e Evelyn, de Ingo Schulze, que explora a fuga de um casal de namorados para a Hungria com suas fronteiras recém-abertas, prenunciando o fim do Muro de Berlim. Embora o romance comece de forma promissora, ele logo perde o ritmo, tornando-se lento e, em muitos momentos, entediante. A segunda metade é repleta de diálogos longos e confusos, nos quais os interlocutores não são claramente identificados, prejudicando a fluidez da leitura. A falta de tensão, a simplicidade da trama e os diálogos cansativos dão a impressão de que a obra poderia ter sido o resultado de um exercício de oficina de escrita criativa, sem o refinamento esperado de um autor como Schulze. Entre tantos escritores, Uwe Johnson talvez seja a única exceção. Considerado o maior autor oriundo da ex-RDA, ele abordou o tema do Muro de Berlim como poucos em obras como Mutmaßungen über Jakob e Jahrestagen. Seus romances capturam, de maneira profunda e sensível, o trânsito constante entre o Leste e o Oeste, refletindo as divisões geopolíticas e emocionais que marcaram a Alemanha dividida. Contudo, mesmo seu trabalho, por mais impactante que seja, ainda parece insuficiente diante da magnitude do Muro, um dos maiores eventos históricos desde o fim da Segunda Guerra Mundial. E essa lacuna torna-se ainda mais evidente quando consideramos a tradição literária alemã, que já nos brindou com gigantes como Goethe, Thomas Mann e Hermann Hesse. A grandeza do tema parece merecer uma resposta literária de igual profundidade. O senhor(a) é atualmente um(a) assinante gratuito(a) de Livraria Trabalhar Cansa. Para uma experiência completa, faça upgrade da sua assinatura. |
Total de visualizações de página
sexta-feira, 3 de outubro de 2025
Silêncio, memória, resistência: O Muro de Berlim e os escritores alemães
Assinar:
Postar comentários (Atom)

Nenhum comentário:
Postar um comentário