Entre lidos e relidos, os meus livros eternos.Para os interessados, eis a atualíssima lista de meus livros eternos.Na semana passada a Anna Kroiss, da página As Horas de Anna, publicou um texto sobre aqueles que seriam os livros eternos de sua escolha, aqueles livros que desde a primeira leitura tornam-se pedra fundamental que sustentam nossa visão de mundo e aos quais sempre retornamos para ler, revisitar, reencontrar. Já há alguns anos cheguei a comentar sobre os meus livros de cabeceira no meu antigo canal do Youtube, mas resolvi reavaliar as obras e autores e hoje vejo que alguns permanecem os mesmos, enquanto outros ocuparam um lugar na minha “estante pessoal”. Para os interessados, eis a atualíssima lista de meus livros eternos. ** Moby Dick ou a baleia, Herman Melville A obra que ao longo da minha vida sempre retorno é este colossal romance de Herman Melville. A criação de Melville é uma odisséia moderna, uma estupenda catedral literária que expande as possibilidades do romance. Na sua estrutura mais simples Moby Dick é um romance de aventura marítima, uma “viagem baleeira”, mas o autor americano irá usar de recursos estilísticos vários, experimentando, ampliando, aprofundando o sentido desta “simples história de pescador”. Antecipando o que Cormac McCarthy e Thomas Pynchon (para citar apenas dois autores que me são caros), fariam em romances como como Meridiano de Sangue e o Arco-íris da Gravidade, Moby Dick é um “turbilhão de referências culturais e históricas...uma reflexão acerca de um mundo em transição – um mundo em que velhos modos de vida e projetos sociais transfiguram-se, reordenam-se, ganham novos sentidos e possibilidades”, para tal, Melville irá se utilizar de formas diversas da arte da escrita: seu romance é uma aventura marítima, mas também um tratado teológico, uma tragédia antiga, uma história bíblica, uma investigação antropológica, um ensaio científico, uma peça de teatro, mas é, acima de tudo, um romance absoluto. Ler e reler Moby Dick, esta trama sobre a obsessão monomaníaca de um homem para sanar a incompletude de sua existência, é, com o perdão do trocadilho, mergulhar no mais profundo dos estudos sobre a condição humana. Os Três Mosqueteiros – Alexandre Dumas Não é preciso ser nenhum grande intelectual para apreciar as aventuras de Porthos, Athos, Aramis e D’Artagnan escritas por Alexandre Dumas, um autor que podemos dizer, inaugurou o que chamamos hoje de “best-sellers”, isto é, obras literárias que prezam mais pelo entretenimento que pela grande reflexão ou experimentação literária e que agradam ao grande público. E como não me considero um desses “grandes intelectuais”, me dou o prazer de sempre revisitar as aventuras dos quatro mosqueteiros que Dumas desenvolveu ao longo de três romances – Os Três Mosqueteiros, Vinte anos depois e O Visconde de Bragelone. Para além da façanha de Dumas em criar personagens populares, que se tornaram universais e atemporais, ele consegue isso utilizando-se da História com h maiúsculo, isto é, mesclando fatos reais e ficcionais, personagens de carne e osso com aqueles de sua imaginação, mais ainda, e também antecipa muito da dinâmica da dinâmica narrativa moderna ao mostrar heróis que são demasiado humanos, falhos, ambivalentes e cheios de fraquezas, e justamente por isso são capazes de fazer escolhas morais nas horas mais decisivas. Por trás das aventuras cheias de duelos, intrigas políticas, dramas e comicidade, há uma força literária que revela o fim de uma era e o surgimento de outra, do fim do romantismo heroico e da ascensão de uma classe burguesa acomodada e pouco dada aos arrebatamentos da vida. Suttre – Cormac McCarthy Seria muita fantasia e pretensão dizer que Suttre, de Cormac MacCarthy, é um livro que leio desde a mais tenra juventude, ao contrário, eis um romance que descobri já nos meus anos mais maduros, e eis uma boa nova para aqueles que leem: é possível descobrir, encontrar um de nossos “livros eternos” mesmo após longos anos de leituras, mesmo após termos lido muito e nos decepcionado grandemente com livros e autores, achando que nada de novo irá nos arrebatar. Pois Suttre é um desses livros arrebatadores e desde a primeira vez que o li, em uma tradução portuguesa de Paulo Faria, publicada pela Relógio D’água, este se tornou um daqueles livros que leio e releio sempre com olhos novos, sempre rejuvenescendo minha paixão pela literatura. A vida de Cornelius Suttre tem tons autobiográficos, mas não estamos diante da famigerada auto ficção, e sim de uma obra que escrita ao longo de vinte anos pelo seu autor, e sua reputação literária é tamanha que é comparada a obras como Ulysses, de James Joyce. O protagonista desta trama vive em uma casa flutuante, literalmente à margem da sociedade, seus amigos e companheiros de infortúnio e miséria formam uma verdadeira “confraria do rebotalho”, que tenta sobreviver com dignidade em uma sociedade violenta, perversa e cruel, mas ainda assim, prenhe daquela esperança entre os caídos que sustenta o mundo. Não preciso dizer que agora que o romance de McCarthy ganhou uma tradução nacional, publicada pela Cia das Letras, aproveitei para novamente reler esta obra prima da literatura contemporânea. A Queda – Albert Camus Talvez das “novelas filosóficas” de Albert Camus, A Queda seja aquela que mais li ao longo da vida, muito mais que O Estrangeiro e A Peste, duas das obras mais populares do escritor e filósofo existencialista. Um aparte, se vocês gostam de A Peste, não deixem de ler Nemêsis, de Philip Roth. O protagonista deste romance existencialista é Jean-Babtiste Clemence, um ex-advogado francês que mora em Amsterdã, que inicia uma “confissão” a um ouvinte desconhecido enquanto em um bar da cidade, em um monólogo intenso e prenhe de culpa, ressentimento, hipocrisia. Ao longo de cinco dias o protagonista reflete sobre a falta de sentido e absurdidade do mundo, temas caros a Camus que aqui faz uma releitura secular da queda original do Homem. O fundo bíblico da narrativa é reforçado por Camus ao fazer Clamence comparar a geografia de Amsterdã, com seus anéis concêntricos, aos anéis do inferno descritos por Dante em sua Comédia. Ao longo dos cinco dias de convivência com esse ouvinte desconhecido, Clemence irá viver uma jornada pessoal que o leva da arrogância ao arrependimento, da hipocrisia à aceitação da verdade e da sua fragilidade moral. Um livro que nos faz olhar no espelho e reconhecer que somos tão tíbios moralmente quanto seu protagonista. Rei Lear – William Shakespeare Um dos hábitos literários que adquiri ao longo dos meus anos entre os livros é a leitura das obras de William Shakespeare, e quando falo de hábito é isto mesmo que quero dizer, algo que faço de forma corriqueira, sem maiores pretensões além de adentrar o mundo deste autor que é verdadeiramente o mestre de todos nós. E este mundo é tão imenso e inesgotável quanto a própria vida – uma frase que parece um clichê, e talvez seja, mas quem disse que um clichê não pode ser plenamente verdadeiro? Autor de comédias, dramas históricos, tragédias, das quais podemos destacar ao menos uma boa dúzia de obras primas, decidi por indicar a peça Rei Lear por a meu ver, representar a culminância estilística, dramática e humana da pena shakespeariana. É a peça que abarca e representa tudo o que Shakespeare é: sua grandeza cósmica, sua sublime poesia, o olhar misericordioso sobre miséria e beleza da condição humana. ** Estes “livros eternos” fica por aqui, mas espero em breve fazer uma lista de livros de nossa literatura para deixar o quadro mais completo. E lembrem-se: em 99% dos casos, reler é sempre melhor que ler. O senhor(a) é atualmente um(a) assinante gratuito(a) de Bunker do Dio. Para uma experiência completa, faça upgrade da sua assinatura. |
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domingo, 28 de setembro de 2025
Entre lidos e relidos, os meus livros eternos.
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