#SilêncioQueIncomodaO vídeo do Felca sobre as redes de exploração de crianças expõe a habitual falta de ação das autoridades, mas o silêncio da mídia revela uma falta de interesse constrangedoraAdultização Infantil: O vídeo do Felca e o silêncio que incomoda Foram sete meses de investigação. É preciso estômago, psicológico e coragem para reunir provas e expor, de forma tão direta, um problema que muitos preferem fingir que não existe: a adultização e exploração sexual de crianças. Eu mesma, em particular, não tenho psicológico para lidar com o assunto, mas tenho a plena consciência da importância e necessidade dessa pauta estar sempre em evidência. O youtuber Felca publicou recentemente um vídeo que, para muitos, é desconfortável de assistir. E não por exageros ou sensacionalismo, mas pela realidade crua que expõe. O assunto não é novo. Volta e meia ganha espaço na mídia, mas desta vez, a repercussão foi maior. Por quê? Talvez porque Felca não tenha histórico de declarações políticas — e, num Brasil polarizado, isso fez com que seu vídeo fosse ouvido por todos os lados. Não houve a barreira do “não concordo com sua ideologia, logo, nada que você diga é válido”. Se fosse um político, um militante de esquerda, ou um religioso fervoroso, o tema se diluiria em rótulos: “militância vazia”, “fanatismo”, “teoria conspiratória”. Enquanto isso, o que realmente importa — a proteção das crianças — seguiria relegado ao segundo plano. E é justamente nesse ponto que a indignação cresce. O caso não é isolado. A Ilha de Marajó? Esquecida. O escândalo Epstein? Já fora das manchetes. Acusações contra P. Diddy? Silenciadas. Em quanto tempo o vídeo de Felca também vai sumir do noticiário? A verdade é dura: há quem não queira lidar com esse problema. Por medo, por conveniência… ou por envolvimento direto. Quem tenta expor é frequentemente atacado, desacreditado ou silenciado. Não seria surpresa se, em breve, tentassem desacreditar o próprio Felca trazendo à tona algum ‘podre’ do passado. Há, ainda, a resistência em acreditar que esse mal esteja tão próximo. É mais confortável pensar que pedofilia e redes de aliciamento são exceções distantes, e não uma ameaça real. Mas as investigações mostram o contrário: de comunicações secretas entre criminosos a produções aparentemente inofensivas, como desenhos animados, que introduzem mensagens subliminares para naturalizar a adultização infantil. O cenário piora quando olhamos para os números. Ou melhor: para a bagunça dos números. Ao pesquisar dados sobre desaparecimento de crianças e adolescentes no Brasil, as divergências são gritantes. Há quem fale em 54 casos por dia; outros, em 110. Algumas fontes apontam 90 mil ocorrências nos últimos quatro anos; outras dizem que não existem dados oficiais atualizados para 2025. E, mesmo assim, desde 2019 existe uma lei prevendo a criação do Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas — que, até hoje, não saiu do papel. Sem esse sistema, informações ficam dispersas entre diferentes órgãos, sem padronização e com pouca troca de dados entre estados. A consequência? Dificuldade de localização, investigações prejudicadas e casos que, com o tempo, desaparecem também da memória coletiva. Nos comentários do vídeo de Felca, a pergunta se repetia: “Por que isso não está na TV? Por que a grande mídia não fala nada?”. A resposta é óbvia para quem acompanha o funcionamento dos bastidores: não é falta de pauta, é falta de interesse — e, talvez, excesso de interesses. O recado que fica é direto: aos pais atentos, redobrem o cuidado; aos criminosos, saibam que há quem observe, denuncie e resista; às autoridades, a pergunta persiste — onde vocês estão? Mas não sejamos ingênuos: também há um risco à vista – façam suas apostas, pois eu tenho certeza. É provável que esse debate seja usado como mais uma justificativa para cercear as redes sociais sob o pretexto de “ precisamos proteger nossas crianças” — quando, na verdade, a intenção seria calar denúncias como a que o Felca trouxe à tona. O que Felca mostrou é só a ponta do iceberg. No fim, o que mais assusta não é só o conteúdo do vídeo, mas a certeza de que, se nada mudar, daqui a alguns meses ele será apenas mais um eco abafado no corredor do esquecimento. Atualmente, você é um assinante gratuito de Não É Imprensa. Para uma experiência completa, atualize a sua assinatura. |
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terça-feira, 12 de agosto de 2025
#SilêncioQueIncomoda
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