A jihad midiática começou com decapitações granulosas e chegou à direção de arte hollywoodiana. A figura de Jihadi John — executor com sotaque britânico e máscara negra — inaugurou a estética do terror como espetáculo. Desde então, a câmera tornou-se tão letal quanto o fuzil. E o Ocidente, mais uma vez, não entendeu a linguagem da guerra. O terror evolui. E como toda entidade adaptativa, ele aprende, imita e supera. Se o 11 de Setembro foi a estreia do terror como megashow global, a ascensão do Estado Islâmico consolidou o seu spin-off visual. Nesse processo, Jihadi John foi o protagonista inaugural: um carrasco britânico, fluente em inglês de Londres, envolto numa máscara preta, que executava reféns com tom de conferencista. Mas o que mais chocava não era a brutalidade — era a mise-en-scène. O enquadramento. A iluminação. O cenário. O roteiro. Tudo obedecia a uma lógica estética implacável: cada execução era filmada como um manifesto cinematográfico. A morte transformada em performance. O algoz em anti-herói. A jihad em conteúdo. E funcionou. Jihadi John não era apenas um assassino. Era um ícone. Viral. Memético. A sua imagem correu o mundo com mais eficiência do que qualquer panfleto do Alcorão ou discurso de ayatolá. A sua figura moldou o imaginário do jihadismo 2.0 — digital, global, simbólico. Com ele, o Estado Islâmico percebeu algo que as potências tradicionais ignoraram: que a guerra não se vence apenas com tanques, mas com cliques. Que um vídeo bem editado convence mais do que um tratado da ONU. E que um adolescente perdido no subúrbio de Manchester, Marselha ou Molenbeek pode encontrar num clipe do ISIS o que não encontra em dez anos de escola pública secular: propósito. Desde então, o jihadismo profissionalizou sua linguagem. Drones substituíram câmeras tremidas. Efeitos sonoros reforçam a tensão. O inimigo é filmado como presa, o mártir como estrela. As GoPros dos combatentes são mais que instrumentos de registro: são confessionários bélicos. Cada emboscada é um conteúdo. Cada explosão, um carrossel de doutrinação. Esse audiovisual da barbárie é mais eficaz que qualquer panfleto ideológico — porque não explica: mostra. Conecta diretamente com o sistema límbico. Convoca o espectador não ao debate, mas à adesão emocional. O Ocidente, enquanto isso, responde com burocracia, relatórios e campanhas de "contra-narrativa" que ninguém assiste. Como se fosse possível competir com a gramática do sacrifício usando institucionalismo morno e vídeos educativos. A verdade incômoda é que a jihad visual venceu a guerra das imagens. E a morte, quando encenada com perfeição e distribuída em rede, vira signo. Vira símbolo. Vira marca. Jihadi John foi a primeira grande marca da jihad contemporânea. O que veio depois — das execuções em 4K às batalhas editadas como trailers da Marvel — apenas refinou o que ele inaugurou: a guerra como storytelling apocalíptico. E enquanto não compreendermos que a guerra atual é por imaginação, continuaremos perdendo. Atualmente, você é um assinante gratuito de Não É Imprensa. Para uma experiência completa, atualize a sua assinatura. |
Total de visualizações de página
domingo, 27 de julho de 2025
#TerrorismoEstilizado
Assinar:
Postar comentários (Atom)





Nenhum comentário:
Postar um comentário