Diario d'Italia, quarta parteFilei-me à eternidade sem querer [...] Ali estava em paz e quase não precisava rezarDiario d’Italia, quarta parte Havíamos deixado Bari com aquela sensação de uma tristeza única que o anúncio da morte do Papa Francisco causara e com aquela pergunta: “Quem sabe o que se segue? Só o Espírito Santo pode responder...” O meu hábito de observar tudo, sejam objetos ou sentimentos, com um distanciamento crítico me distancia do autor alemão, além da diferença que dele mantenho – distância enorme por ser católico e ele uma ostra protestante. Bem, havíamos saído de Bari, na Pasqueta, quando havíamos recebido a triste notícia da morte do Papa Francisco. Rapidamente, a estrada nos levou de Bari a Polignano, depois de um rápido café na inusitada cidade de Alberobello, que nos custou €4,50. À tarde, o café haveria de ser mais caro porque Polignano a Mare, a cidade de Domenico Modugno, tem mais turistas e os custos são mais alto. Além disso, não tem nada a ver com os “trulli”, espécie de habitação, para mim algo impraticável – aquelas casas com telhados cônicos com pontas brancas típicas de Alberobello, que, convenhamos é tudo menos prático e só a história justifica o inusitado de tal coisa, que nada tem a ver com a arquitetura tradicional italiana. Conta a história que os “trullis” (que achei algo de um mau gosto incrível) possuem uma história interessante ligada à evasão de impostos e à arquitetura vernacular da região de Puglia, na Itália. As pessoas à época de sua construção, fugiam dos coletores de impostos refazendo as casas rapidamente para não pagar por mais “cômodos” ou dependências. A habitação, dizem, se prestava a esse expediente de fuga dos fiscais do imperador que andavam pela região, arrecadando impostos. Estive tomando um café dentro de um deles, onde além do mau-humor do proprietário, eu gozei do contato com um quintal minúsculo onde havia duas ou três árvores típicas sem frutos... Um lugar para não voltar. Seguimos adiante. Polignano, sim, tem o que mostrar. Chegamos ali com um contato de celular com a responsável pelo AirBnB onde deveríamos nos hospedar. A cidade é avessa à entrada de turistas e, por isso, vieram nos buscar num estacionamento público e nos conduzir até a nossa morada. Estava eu cansado de dirigir e ansioso por repouso. Isso não foi possível senão depois de dois jovens nos levarem ao centro da simpática cidade onde não só transitam carros autorizados. Chegamos numa espécie de triciclo com uma bagagem enorme, mesmo tendo deixado parte no maleiro do carro que ficou num estacionamento à entrada da cidade. Ao entrar no centro histórico, notamos que Modugno mandava na cidade da qual desertou e para onde voltou como herói. “Nel blu dipinto di blu” estava em todos os cantos e a imagem enorme do cantor é atração na avenida à beira-mar. O azul dominava o mar e o céu de Polignano. Decidimos, pois, deixar-nos pintar o rosto, o coração e as mãos do azul daquele mar incrível de Polignano. A pé, passeamos o tempo todo que estivemos ali, ao som de Modugno e com as letras suspensas nas ruas – uma música doce soava pra nós, naquela cidade pacífica e toda ela branca, submissa ao azul. Foi quando me lembrei do poema de Murilo Mendes que dizia sobre Taormina que ali havia “uma dupla profundidade do azul” – o céu e o mar, por conclusão. Aqui era o mesmo, só que Murilo não havia providenciado a poesia. Filei-me à eternidade sem querer, para repetir outro poeta católico (Jorge de Lima). Ali estava em paz e quase não precisava rezar, pois que a natureza o fazia por mim e por todos os Queiroz. Assim, em paz e em contemplação se passaram quatro dias, quando nos dirigimos para Lecce. Grandes surpresas a Primavera nos reservava ali. Depois, eu conto pra você. O senhor(a) é atualmente um(a) assinante gratuito(a) de Livraria Trabalhar Cansa. Para uma experiência completa, faça upgrade da sua assinatura. |
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sábado, 26 de julho de 2025
Diario d'Italia, quarta parte
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