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domingo, 24 de agosto de 2025

Fatores que Afetam os Teores de Princípios Ativos nas Plantas Medicinais: Reprodução, Genética e Propagação

Por: Marcos Roberto Furlan | Pós-graduação em Fitoterapia

Introdução

A produção e concentração de princípios ativos em plantas medicinais é influenciada por inúmeros fatores, entre os quais se destacam os aspectos genéticos, ambientais e reprodutivos. O conhecimento desses elementos é fundamental para pesquisadores, fitoterapeutas, agricultores e profissionais da saúde que trabalham com fitoterápicos, plantas medicinais ou mesmo com agricultura orgânica e biodiversidade brasileira.

Neste artigo, vamos explorar os principais mecanismos de reprodução das plantas, como eles influenciam a diversidade genética e, consequentemente, os teores de compostos bioativos nas espécies utilizadas medicinalmente.


Reprodução de Plantas: O Início da Variabilidade

A forma como uma planta se reproduz tem impacto direto sobre sua variabilidade genética, uniformidade populacional e capacidade de adaptação a diferentes ambientes. Isso, por sua vez, pode afetar os teores de princípios ativos, que são produtos secundários do metabolismo vegetal.

A reprodução vegetal pode ser sexual (ou gâmica) ou assexual (ou agâmica).

1. Reprodução Sexual (Gâmica)

A reprodução sexual envolve a união de gametas, originando um embrião com material genético herdado de dois indivíduos. Este processo garante maior diversidade genética.

As espécies de plantas medicinais podem ser classificadas com base no tipo de fecundação predominante:

  • Autógamas (>95%): autofecundação. Gera uniformidade genética, mas maior vulnerabilidade. Exemplo: algumas leguminosas.

  • Alogamas (>95%): fecundação cruzada. Gera heterose (vigor híbrido), diversidade e maior capacidade de adaptação. Exemplo: milho, maracujá.

  • Intermediárias (5% a 95%): combinações entre auto e alogamia.

A compreensão desses mecanismos é importante para decidir como multiplicar uma planta medicinal sem perder (ou até aumentar) a concentração de compostos bioativos.


Fatores Reprodutivos Específicos

a) Autogamia

É a autofecundação: o próprio pólen da flor fecunda o óvulo da mesma flor. Promove homozigose e uniformidade, mas pode levar à diminuição de variabilidade genética e acúmulo de genes deletérios.

Cleistogamia

Uma forma extrema de autogamia, onde a flor não se abre. A fecundação ocorre antes da antese (fase de abertura da flor). Essa característica favorece ainda mais a estabilidade genética, útil em programas de melhoramento para manter os teores de princípios ativos constantes.


b) Alogamia

É a fecundação cruzada entre diferentes indivíduos da mesma espécie. Promove heterozigose, maior variabilidade genética e pode aumentar a expressão de metabólitos secundários.

Dicogamia

Quando as estruturas sexuais (androceu e gineceu) amadurecem em tempos diferentes, dificultando a autofecundação e favorecendo a alogamia.

  • Protrandria: androceu amadurece antes do gineceu.

  • Protoginia: gineceu amadurece antes do androceu.


c) Hercogamia

Caracteriza-se pelo arranjo espacial entre anteras e estigmas que impede a autopolinização, promovendo naturalmente a alogamia. Essa barreira morfológica garante maior diversidade genética.


Reprodução Assexual (Agâmica): A Propagação sem Gametas

A reprodução agâmica é o processo de multiplicação sem envolvimento de gametas. Não há meiose, nem fecundação. O embrião se forma a partir de células diploides, e o novo indivíduo é geneticamente idêntico à planta-mãe (clonal).

Vantagens

  • Manutenção de plantas com alto teor de princípios ativos.

  • Preservação de características desejadas (produção, morfologia, resistência).

  • Utilizada para plantas com baixo índice de germinação ou sementes estéreis.

Formas de reprodução assexual

  • Estaquia

  • Mergulhia

  • Alporquia

  • Micropropagação in vitro

  • Divisão de touceiras

  • Bulbilhos e rizomas


Apomixia: Reprodução Sem Fecundação

A apomixia é um tipo especial de reprodução agâmica. O embrião se forma sem meiose e sem fecundação por gametas. Ou seja, ocorre desenvolvimento embrionário direto de células somáticas do ovário, que são diploides.

  • Apomixia obrigatória: sempre ocorre.

  • Apomixia facultativa: pode ocorrer junto com a reprodução sexual.

Importância da Apomixia na Fitoterapia

Permite a produção de plantas geneticamente uniformes, com alta estabilidade nos teores dos princípios ativos, ideal para cultivares comerciais.


Interferência dos Mecanismos Reprodutivos nos Princípios Ativos

A escolha do método de propagação influencia diretamente:

  • A uniformidade dos teores dos princípios ativos entre diferentes indivíduos.

  • A produção de metabólitos secundários, muitas vezes induzida por fatores ambientais ou genéticos.

  • A resposta adaptativa da planta às variações do ambiente (sol, solo, água).


Implicações Práticas na Produção de Fitoterápicos

Para garantir qualidade, eficácia e segurança dos fitoterápicos, é essencial padronizar o material vegetal utilizado. Isso inclui:

  1. Escolher plantas-matrizes com alto teor de princípios ativos.

  2. Utilizar técnicas de propagação vegetativa (assexual) para garantir homogeneidade genética.

  3. Evitar sementes quando o objetivo é manter a estabilidade química dos compostos.

  4. Implementar cultivos com controle ambiental e práticas agronômicas adequadas.


Considerações Finais

O conhecimento sobre os mecanismos de reprodução, fertilização e propagação vegetal vai além da botânica básica. Trata-se de uma ferramenta essencial na produção padronizada de fitoterápicos, no melhoramento genético de espécies medicinais e na preservação da biodiversidade funcional.

Para pesquisadores, produtores e profissionais da área da saúde, a chave está em aliar o saber científico ao manejo correto das espécies vegetais, de forma que a variabilidade genética seja controlada quando necessário e estimulada quando for benéfica para a planta ou seu ambiente.


Referência Bibliográfica

FURLAN, Marcos Roberto. Fatores que afetam os teores dos princípios ativos – VII. Módulo: Botânica e Etnobotânica de Plantas Medicinais. Pós-graduação em Fitoterapia. IFSP, 2021.


segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

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