Obrigado pela sua leitura! Há dois anos, o ensaísta Geoff Shullemberger, da revista Compact, foi a El Salvador, para ver se as coisas estão tão bonitas assim lá na terra de Nayib Bukele, o novo ídolo da direita brasileira. Algumas narrativas foram derrubadas com esse relato feito in loco, que podem ser resumidas nos seguintes pontos: O primeiro é que a tal da inovação do bitcoin, propagada pelo presidente salvadorenho, surtiu pouco efeito na combalida economia do país. O segundo é que várias iniciativas públicas do governo Bukele, entre eles o novo prédio da Biblioteca Nacional de El Salvador, foram realizadas numa parceira com o governo chinês, o que decididamente é algo esquisito por quem é admirado pelos nossos “conservadores”. E o terceiro ponto, mas não menos importante, é que a retórica de Bukele tem mais a ver com a esquerda radical moldada por figuras célebres como o Arcebispo Oscar Romero, grande defensor da Teologia da Libertação e assassinado em 1980. A novidade é que Bukele deu um tratamento mais moderno a este tipo de discurso. Ou seja: sai o imperialismo americano como o inimigo supremo, agora entra a colonização das ONGs globalistas que tirarão a soberania do país. Porém, o aspecto perturbador da matéria da Compact é a sugestão de que Bukele, ao se aliar com o Partido Republicano (ele participou das últimas edições do CPAC), transformou a sua administração em um modelo a ser exportado para outros governos, entre eles os EUA comandados por Donald Trump. Não seria um exagero. Bukele aprendeu o jogo de como funciona a tal da “lógica do mercado” - e, em um mundo onde a democracia liberal dá sinais de fadiga, o autoritarismo passa a ser uma saída prática que resolveria dilemas aparentemente insolúveis (entre eles, o da segurança pública). Não à toa que a direita americana está fascinada por Vladimir Putin e que a esquerda radical ainda acredita que a China é um país exemplar no modo como ela lida com a economia (claro que esse pessoal se esquece da ausência de liberdade, mas esperar o quê deles?). Já a nossa direita tupiniquim está completamente hipnotizada por Bukele - em particular os militantes do MBL, agora incorporados ao sistema patrimonialista com o surgimento do partido Missão. Eles são tão aguerridos na internet que, após esse texto for publicado, provavelmente receberei comentários escritos por leitores furiosos, que defenderão o presidente de El Salvador sem nenhum pudor e com a alegria dos beócios, além de “passarem o pano” para a liderança do MBL. Contudo, o que essa turma se esquece é que, com a vitória de Trump, o americano certamente será um “macaco de Bukele” tanto para impedir uma guerra civil nos EUA como também para impedir uma Terceira Guerra Mundial (o que significa que terá de fechar os olhos para as atrocidades de Vladimir Putin). E a consequência prática disso, para os brasileiros, é que a América vai se isolar de vez, e o mesmo ocorrerá com a União Europeia, pois esta não confiará em mais ninguém (e é melhor nem comentar o que já acontece com Israel após o ataque do Hamas em 2023). E por que? Porque o Brasil, seja com Lula, seja com o retorno do bolsonarismo, terá de se aliar com o “bolchevismo de direita” defendido por Putin, pela China - e praticado com extrema competência por Nayib Bukele em El Salvador. Não se tratará mais de uma questão comercial ou de ideologia. Será uma questão de sobrevivência. Em outras palavras: o modelo de estado de exceção permanente em El Salvador (Bukele o reforça ao final de cada período de trinta dias) nos firmará como a lata de lixo na história, condenada para sempre a viver com as ideias fora de lugar. A única solução para o Brasil é que o povo faça uma contrarrevoluçao, aos moldes do que aconteceu entre 2014 e 2016, e hoje, mais amadurecido, não insista mais em líderes ou grupos messiânicos com missões utópicas e sim em representações comunitárias de diversos estratos da sociedade (igrejas, comércio, imprensa alternativa, etc.), expelindo por completo qualquer amostra do antigo status quo, a começar pela elite intelectual e chegando à casta política. Ocorre que, surpresa das surpresas, não temos lideranças para tal feito. E, portanto, sobraram apenas os macacos de Bukele - os quais, por sua vez, transformarão a nossa vida em um eterno estado de exceção. Quem quiser colaborar com o meu trabalho, além do valor da assinatura desta newsletter pessoal, pode me ajudar por meio do pix: martim.vasques@gmail.comE quem quiser apertar o botão abaixo só para fazer a minha felicidade - e manter essa newsletter de modo mais profissional, be my guest: *** AVISO: NOVO CURSO - ALÉM DO ZEROUM NOVO TRECHO LOGO ABAIXO:Queridos leitores: Temos um novo curso ALÉM DO ZERO - VIVENDO NA RELIGIÃO DA TECNOLOGIA. Trata-se de um prosseguimento do assunto que abordei no meu curso anterior, De Zero a Nero - O que Shakespeare ensinou a Peter Thiel sobre os rumos da liderança, que você pode adquirir aqui. Serão seis aulas, de 30 minutos a 1 hora de duração. Aqui vão os temas abordados: O curso é também uma reflexão sobre certas obsessões minhas e que me acompanham desde a época do meu primeiro livro, Crise e Utopia - O Dilema de Thomas More (2012), indo até A Disciplina do Deserto, minha obra derradeira. Ambos os livros serão lançados juntos em 2026, se os deuses do mercado editorial permitirem. Dito isso, chegamos ao grande momento: Quanto custará o curso?E a resposta é: Você decide.Isso mesmo: Quem determinará o preço será você, não eu.Veja os temas que serão abordados. Veja a qualidade gráfica do material promocional. Veja o seu interesse. Veja como isso pode te ajudar na sua vida pessoal e pública. E aí você envia o valor no PIX abaixo:martim.vasques@gmail.comAssim que fizer o pagamento, mande uma mensagem no mesmo endereço acima (vou reforçar: martim.vasques@gmail.com), com o assunto escrito da seguinte forma - CURSO ALÉM DO ZERO -, e eu vou lhe enviar um link com acesso, também por e-mail, a uma pasta especial no Google Drive, onde haverá todo o material disponível do curso (é importante reforçar que é bom ter uma conta no Google). Observação importante: Não haverá reembolso no valor a ser pago (e se alguém precisar de Nota Fiscal, posso providenciá-la sem problemas, desde que me informe todos os dados necessários). (Pediria também a paciência de me dar um prazo de 24 horas para responder, pois sou “o exército do eu sozinho” nesta empreitada) Qualquer dúvida, é só conversar comigo por e-mail ou via DM do Substack. Agora a única coisa que posso lhes dizer é: obrigado pela confiança no meu trabalho - e eu espero que consiga cumprir as expectativas. Um forte abraço do MVC You're currently a free subscriber to Presto. For the full experience, upgrade your subscription. |
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quarta-feira, 10 de dezembro de 2025
Macacos de Bukele
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