Introdução: A Formação da Identidade Acústica Nacional
A história da música brasileira, compreendida entre o início do século XIX e o final do século XX, não é apenas uma cronologia de melodias e ritmos; é o registro auditivo da formação sociológica de uma nação. Analisar as 500 composições mais tocadas e influentes deste período exige um mergulho nas tensões dialéticas que forjaram o Brasil: o confronto e a conciliação entre o erudito e o popular, a oralidade africana e a escrita europeia, o salão aristocrático e a rua. De 1800 a 2000, o Brasil transitou da modinha imperial, executada ao piano em solares escravocratas, para a explosão eletrônica e periférica do final do milênio, num processo contínuo de antropofagia cultural.
Este relatório examina a produção musical sob a ótica da musicologia histórica e da sociologia da cultura, identificando as obras que não apenas dominaram a execução pública — seja nos saraus, no rádio ou na televisão — mas que também redefiniram a estética sonora do país. A seleção abrange desde os primórdios da fixação das formas musicais nacionais, passando pela Era de Ouro do Rádio, até a consolidação da indústria fonográfica moderna.
Capítulo I: O Século XIX e a Gênese da Canção Urbana (1800–1899)
O século XIX foi o laboratório onde os elementos díspares da colonização começaram a se amalgamar numa sonoridade distintamente brasileira. A chegada da Família Real em 1808 acelerou a urbanização e a importação de pianos, instrumento que se tornaria o vetor principal da música doméstica. Neste cenário, dois gêneros emergem como os pilares ancestrais da Música Popular Brasileira (MPB): a Modinha e o Lundu.
A Modinha Imperial e o Sentimentalismo Luso-Brasileiro
A modinha, derivada da moda portuguesa e influenciada pela ópera italiana, estabeleceu o "pathos" da música brasileira: a melancolia, o lirismo exacerbado e a temática do amor não correspondido. Domingos Caldas Barbosa, embora atuante na transição do século XVIII, projetou uma sombra longa sobre o século XIX, introduzindo uma sensualidade tropical na métrica europeia.1
A prática da modinha dividia-se entre o salão burguês, onde era executada ao piano com refinamento técnico, e a rua, onde ganhava o acompanhamento da viola e do violão, adquirindo contornos mais populares. Compositores eruditos não se furtaram ao gênero, vendo nele uma expressão genuína da alma nacional.
Obras Fundamentais do Período Imperial:
Quem Sabe? (1859) – Antônio Carlos Gomes: Antes de se consagrar como o maior operista das Américas, Carlos Gomes compôs esta modinha sobre versos de Bittencourt Sampaio. A canção é um marco por elevar a estrutura da canção popular ao rigor da composição erudita, tornando-se uma peça obrigatória nos saraus do Segundo Reinado.2
Suspiro d'Alma (1857) – Antônio Carlos Gomes: Outro exemplo da incursão de Gomes no gênero, demonstrando a permeabilidade entre a música de concerto e a canção de câmara popular.2
Beata Virgo (Séc. XVIII/XIX) – Luís Álvares Pinto: Representante da música colonial que, embora sacra, influenciou a modinha através de seu tratamento melódico.4
O Lundu e a Síncopa Afro-Brasileira
Se a modinha era a lágrima, o lundu era o riso e a dança. De origem banto, o lundu trouxe a síncopa e a umbigada para o convívio social brasileiro. Inicialmente censurado pela moral vigente, foi gradualmente "amaciado" para o piano, tornando-se a primeira forma de música negra a ser aceita, ainda que com ressalvas, pela elite branca.
A figura de Xisto Bahia é central neste processo. Ator, cantor e compositor, ele personificou a transição do lundu de terreiro para o lundu-canção, focado na crônica de costumes e na crítica social velada.
Obras de Destaque e Influência:
Isto É Bom (1880-1902) – Xisto Bahia: Frequentemente citada como a primeira gravação fonográfica brasileira (realizada posteriormente, em 1902, por Bahiano), esta obra encapsula a malícia e o ritmo que definiriam o samba décadas depois.5
A Mulata – Xisto Bahia: Uma peça que reflete as complexas relações raciais e a fetichização da mulher mestiça na sociedade escravocrata do século XIX.4
Lá no Largo da Sé (Início Séc. XIX) – Cândido Inácio da Silva: Um lundu que retrata a vida urbana do Rio de Janeiro antigo, demonstrando a capacidade do gênero de atuar como crônica jornalística.4
Chiquinha Gonzaga: A Transição para a Modernidade
No final do século, Chiquinha Gonzaga operou uma revolução. Ao transpor a rítmica das ruas para a pauta, ela nacionalizou o piano. Sua obra desafiou as convenções de gênero e classe, pavimentando o caminho para o que viria a ser o maxixe e o choro.
Tabela 1.1: Obras Seminais de Chiquinha Gonzaga e Contemporâneos (1880-1899)
Capítulo II: A Belle Époque Tropical e a Fixação do Samba (1900–1929)
As três primeiras décadas do século XX testemunharam a modernização do Rio de Janeiro e o nascimento da indústria fonográfica no Brasil, liderada pela Casa Edison de Fred Figner. Foi o período de transição do maxixe para o samba e a consolidação do choro como gênero instrumental.
A Era da Casa Edison e o Maxixe
As gravações mecânicas deste período revelam um gosto popular inclinado para o humor, a polca-lundu e o maxixe. Bahiano (Manuel Pedro dos Santos) foi o primeiro grande astro da música gravada, cuja voz potente era necessária para impressionar as matrizes de cera.
Obras de Alta Rotação (1900-1919):
Pelo Telefone (1916/1917) – Donga e Mauro de Almeida: Oficialmente registrado como o primeiro samba, embora sua estrutura rítmica seja inegavelmente maxixada. Sua letra, que zomba da autoridade policial (o chefe de polícia Aurelino Leal), estabeleceu a tradição do samba como veículo de resistência e crônica malandra.13
Caboca di Caxangá (1913) – Patrício Teixeira: Um sucesso estrondoso que trouxe a temática do norte (sertanejo/nordestino) para o Rio de Janeiro, antecipando o movimento de Luiz Gonzaga em trinta anos.14
Vem Cá, Mulata (1906) – Arquimedes de Oliveira: Exemplo clássico das gravações de "falação" e música, típicas do teatro de revista que dominava o entretenimento popular.15
A Santíssima Trindade do Samba: Donga, Sinhô e Pixinguinha
Na década de 1920, o samba começou a se desvencilhar do maxixe, ganhando contornos mais urbanos e sincopados. Sinhô, autoproclamado "Rei do Samba", e Pixinguinha, gênio da orquestração, foram as figuras centrais.
Jura (1928) – Sinhô: Interpretada por Mário Reis, esta canção marcou uma ruptura estética. Mário Reis abandonou a impostação operística de cantores como Vicente Celestino em favor de um canto coloquial, quase falado, fundamental para a evolução do samba.13
Gosto Que Me Enrosco (1928) – Sinhô: Outro clássico que reflete a malandragem carioca e a disputa autoral constante entre os sambistas da época.13
Carinhoso (1917/1937) – Pixinguinha: Composta em 1917 como choro instrumental, foi inicialmente criticada por sua influência jazzística. Apenas nos anos 30, com letra de João de Barro, tornou-se o hino não oficial do Brasil. Sua complexidade harmônica estava décadas à frente de seu tempo.16
Tabela 2.1: As Mais Tocadas e Influentes da Década de 1920 (Síntese de Dados)
Capítulo III: A Era de Ouro do Rádio e o Nacionalismo Musical (1930–1945)
A Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas coincidiram com a expansão do rádio comercial. O rádio unificou o país culturalmente, e o samba, antes marginalizado, foi cooptado como símbolo de identidade nacional. Surgiu o "Samba-Exaltação", grandiloquente e patriótico, ao lado do samba de morro que se sofisticava.
A Consolidação do Samba Urbano
A disputa entre a "Turma do Estácio" (que definiu a batida do samba moderno) e os compositores de classe média de Vila Isabel gerou obras-primas.
Com Que Roupa? (1930) – Noel Rosa: O samba que lançou Noel Rosa. Com humor e ironia, ele retrata a penúria econômica do brasileiro, usando uma melodia simples mas harmonicamente rica. Noel legitimou o samba entre a classe média.18
Conversa de Botequim (1935) – Noel Rosa: A crônica perfeita do malandro carioca, com diálogos inseridos na melodia e uma estrutura rítmica que exige precisão absoluta do intérprete.18
O Que É Que A Baiana Tem? (1939) – Dorival Caymmi: Lançada por Carmen Miranda, esta canção não apenas internacionalizou a música brasileira mas definiu a estética visual e sonora da "brasilidade" no exterior. O violão de Caymmi introduziu uma divisão rítmica praieira única.19
Aquarela do Brasil (1939) – Ary Barroso: O ápice do Samba-Exaltação. Com arranjos orquestrais exuberantes de Radamés Gnattali, a música alinhava-se ao projeto nacionalista do Estado Novo, pintando um Brasil paradisíaco e grandioso. É uma das músicas brasileiras mais regravadas da história.17
As Divas e os Astros do Rádio
O "Star System" brasileiro formou-se em torno de nomes como Orlando Silva, Francisco Alves e Carmen Miranda.
Pastorinhas (1938) – Braguinha (João de Barro) e Noel Rosa: Uma das marchas-rancho mais belas e tristes, composta no final da vida de Noel. Tornou-se um clássico absoluto dos carnavais.19
Cidade Maravilhosa (1934) – André Filho: Hino cívico do Rio de Janeiro, capturando o otimismo da então capital federal.7
Fita Amarela (1932) – Noel Rosa: Um testamento musical que aborda a morte com a leveza e a filosofia de botequim típicas do poeta da Vila.22
Capítulo IV: O Pós-Guerra, o Samba-Canção e a Invasão do Baião (1946–1957)
Após a Segunda Guerra, o Brasil viveu um período de redemocratização e otimismo, mas a música popular mergulhou nas fossas do "Samba-Canção". Influenciado pelo bolero e pelas baladas americanas, este gênero focava nas desilusões amorosas e na vida noturna. Simultaneamente, o Nordeste invadiu o Sul com o Baião.
A Dor de Cotovelo e a Boemia
Nervos de Aço (1947) – Lupicínio Rodrigues: A obra máxima da dor de cotovelo. Lupicínio descreve o ciúme com uma precisão psicológica devastadora. A melodia arrastada exige uma interpretação visceral.23
Copacabana (1946) – Dick Farney: Composta por João de Barro e Alberto Ribeiro, marca o início de uma modernização harmônica e interpretativa. O estilo "crooner" de Farney, suave e coloquial, preparava o terreno para a Bossa Nova.24
A Volta do Boêmio (1957) – Nelson Gonçalves: O maior sucesso de Nelson Gonçalves, consolidando a figura do boêmio sofredor. A gravação vendeu milhões e definiu o padrão da música romântica masculina por anos.22
Atire a Primeira Pedra (1950s) – Ataulfo Alves: Um samba que discute moralidade e julgamento social com uma linguagem direta e popular, mantendo-se atual no repertório de cantores contemporâneos.22
O Rei do Baião
Luiz Gonzaga, em parceria com Humberto Teixeira e Zé Dantas, criou o primeiro fenômeno de massa da música nordestina no sudeste.
Asa Branca (1947) – Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira: O "hino do Nordeste". Sua melodia modal e a letra sobre a seca e a migração forçada ressoaram com milhões de migrantes que chegavam às metrópoles. É uma das cinco músicas mais influentes da história do Brasil.16
O Xote das Meninas (1953) – Luiz Gonzaga: Exemplo da capacidade de Gonzaga de traduzir o folclore para uma linguagem pop, introduzindo ritmos dançantes que dominariam as festas juninas e o rádio.22
Paraíba (1950s) – Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira: A afirmação do orgulho regional em uma época de forte preconceito contra os nordestinos no sul do país.22
Tabela 4.1: Top Hits da Década de 1950 (Influência e Execução)
Capítulo V: A Revolução Estética: Bossa Nova e Festivais (1958–1969)
O final dos anos 50 e a década de 60 representam a ruptura definitiva. A Bossa Nova sofisticou a harmonia; os Festivais de MPB politizaram a canção; a Jovem Guarda introduziu a guitarra elétrica; e o Tropicalismo implodiu as barreiras entre todos eles.
Bossa Nova: A Exportação da Sofisticação
Chega de Saudade (1958) – Tom Jobim/Vinícius de Moraes (Interpretação de João Gilberto): A batida de violão de João Gilberto simplificou a percussão do samba em uma única mão, enquanto sua voz baixou o volume da música brasileira. É a divisão de águas da nossa musicologia.16
Garota de Ipanema (1962) – Tom Jobim/Vinícius de Moraes: A canção brasileira mais conhecida no mundo. Representou o auge da exportação cultural do Brasil pré-golpe militar.17
Desafinado (1959) – Tom Jobim/Newton Mendonça: Um manifesto estético que respondia aos críticos que chamavam a Bossa Nova de "música para desafinados", incorporando a complexidade harmônica na própria letra.28
Samba de Verão (1964) – Marcos Valle: Seguiu a trilha da Bossa Nova com uma pegada mais pop e solar, alcançando imenso sucesso nos EUA.27
A Jovem Guarda e o Iê-Iê-Iê
Enquanto a universidade ouvia Bossa Nova e canção de protesto, a massa jovem consumia o rock da Jovem Guarda, liderado por Roberto Carlos.
Quero Que Vá Tudo Pro Inferno (1965) – Roberto Carlos: A canção que fundou o rock brasileiro de massa. Com letra direta sobre sofrimento amoroso e arranjo inspirado nos Beatles, foi um choque cultural e um sucesso de vendas sem precedentes.27
Festa de Arromba (1965) – Erasmo Carlos: Uma crônica do próprio movimento Jovem Guarda, citando seus integrantes e celebrando a cultura juvenil despolitizada.27
Banho de Lua (1960) – Celly Campello: Versão de "Tintarella di Luna", foi um dos primeiros hits de rock a dominar as rádios nacionais.27
A Era dos Festivais e o Tropicalismo
Os festivais da TV Record e TV Globo tornaram-se arenas políticas e estéticas.
Arrastão (1965) – Edu Lobo/Vinícius de Moraes (Int. Elis Regina): A performance catártica de Elis Regina inaugurou a "Era dos Festivais" e projetou a MPB como gênero de palco, muscular e dramático.27
A Banda (1966) – Chico Buarque: Venceu o festival de 66. Sua melodia singela de marchinha esconde uma nostalgia profunda, cativando o público de forma unânime.27
Disparada (1966) – Geraldo Vandré/Théo de Barros (Int. Jair Rodrigues): Dividiu o prêmio com "A Banda". Trouxe a moda de viola e o sertão para o centro do debate cultural, com uma letra de forte teor social.29
Tropicália (1968) – Caetano Veloso: O manifesto do movimento. Misturou a Bossa Nova, o Rock, o brega e a vanguarda erudita. A letra é uma colagem de imagens do Brasil arcaico e moderno, rompendo com o nacionalismo purista da esquerda.28
Panis et Circenses (1968) – Os Mutantes: Introduziu a psicodelia e a distorção no Brasil. Os arranjos de Rogério Duprat trouxeram a influência dos Beatles de "Sgt. Pepper's" para a MPB.28
Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores (1968) – Geraldo Vandré: O hino contra a ditadura. Sua censura e a posterior prisão de Vandré transformaram a música em um mito de resistência.30
Capítulo VI: Os Anos de Chumbo e a Explosão Criativa (1970–1979)
A década de 70 foi paradoxal: sob a censura mais rígida do AI-5, a música brasileira produziu sua discografia mais aclamada. A MPB consolidou-se, o Soul Brasileiro nasceu e o rádio FM começou a segmentar o público.
O Cume da MPB: Resistência e Metáfora
Construção (1971) – Chico Buarque: Frequentemente eleita a maior música brasileira de todos os tempos. A estrutura narrativa em proparoxítonas descreve a morte de um operário como um evento mecânico e trágico, servindo de crítica velada ao "Milagre Econômico".16
Águas de Março (1972/1974) – Tom Jobim (Int. Elis & Tom): A gravação de 1974 é o ápice da performance vocal e instrumental no Brasil. A letra, um fluxo de consciência sobre o ciclo da vida, é uma obra-prima de concisão e imagem.16
Ouro de Tolo (1973) – Raul Seixas: Raul introduziu o deboche e o misticismo no rock. A letra desconstrói o sonho da classe média brasileira e o conformismo social.28
Como Nossos Pais (1976) – Belchior (Int. Elis Regina): Tornou-se o hino de uma geração frustrada pela ditadura, que sentia que, apesar da aparência de mudança, "ainda somos os mesmos".32
Cálice (1973/1978) – Chico Buarque e Gilberto Gil: Censurada por anos, a música usa o jogo de palavras "Cálice" (sangue de Cristo) e "Cale-se" (ordem de silêncio) para denunciar a repressão.32
Soul, Funk e a Black Rio
Azul da Cor do Mar (1970) – Tim Maia: Tim Maia trouxe o Soul americano para a MPB, mas com uma melancolia e melodia inconfundivelmente brasileiras.33
Sossego (1978) – Tim Maia: O auge da fase disco/funk de Tim Maia, com arranjos de metais poderosos que definiam os bailes da zona norte do Rio.23
A Noite Vai Chegar (1977) – Lady Zu: A "Donna Summer brasileira", Lady Zu colocou a música disco nacional no topo das paradas, quebrando barreiras raciais e de gênero nas FMs.34
Tabela 6.1: Seleção do "Top Baú" - As Mais Tocadas nas Rádios (1970-1979)
Baseada nos dados de execução compilados em 31
Capítulo VII: O Rock Brasil e o Romantismo de Massa (1980–1989)
A década de 80, marcada pela redemocratização e pela campanha das "Diretas Já", teve no rock a sua trilha sonora oficial. Paralelamente, o que a crítica chamava de música "brega" ou "cafona" vendia milhões de cópias, dominando a programação popular.
O BRock: A Voz da Juventude Urbana
Menina Veneno (1983) – Ritchie: Um pop rock perfeito que dominou todas as rádios do país em 1983, tornando-se um marco da década.29
Tempo Perdido (1986) – Legião Urbana: Renato Russo tornou-se o porta-voz da juventude. A letra reflete a urgência e o tédio de uma geração pós-ditadura. "Somos tão jovens" tornou-se um mantra.30
Ideologia (1988) – Cazuza: Com a frase "Meu partido é um coração partido", Cazuza sintetizou a desilusão com a Nova República e sua própria luta contra a AIDS.23
Polícia (1986) – Titãs: Um punk rock direto que denunciava a violência policial, tema recorrente e explosivo na transição democrática.30
Alagados (1986) – Os Paralamas do Sucesso: Introduziu uma sonoridade mais brasileira e caribenha ao rock, com críticas sociais agudas sobre a favelização.36
A Força do Popular e do "Brega"
Fogo e Paixão (1985) – Wando: O hino da sedução popular. Apesar do preconceito da crítica, sua construção melódica e arranjo são sofisticados, e a música permanece no imaginário coletivo.37
Sandra Rosa Madalena (1978/80s) – Sidney Magal: A incorporação do kitsch e da performance cigana. Magal foi um precursor na performance visual na TV brasileira.37
Aguenta Coração (1990) – José Augusto: Embora lançada na virada da década, representa o estilo de balada romântica que dominou as novelas globais, essenciais para o sucesso de uma música no Brasil.37
O Amor e o Poder (1987) – Rosana: "Como uma deusa..." foi o refrão onipresente de 1987, exemplificando o poder das trilhas sonoras de novela (Mandala).37
Capítulo VIII: A Hegemonia do Mercado: Sertanejo, Pagode e Axé (1990–2000)
Nos anos 90, com a estabilização econômica do Plano Real e a popularização do CD, a indústria fonográfica brasileira atingiu seu ápice de vendas. O rock recuou, dando espaço para gêneros que misturavam raízes populares com produção pop massiva.
A Explosão Sertaneja
A música caipira eletrificou-se e tornou-se urbana, rompendo a barreira do preconceito da classe média.
É o Amor (1991) – Zezé Di Camargo & Luciano: Esta canção define a década. Com agudos potentes e letra romântica, transformou a dupla em superastros e abriu as portas das rádios FM para o sertanejo.38
Evidências (1990) – Chitãozinho & Xororó: Tornou-se um fenômeno cultural, sendo hoje considerada o "hino nacional" dos karaokês. Sua complexidade melódica e letra confessional atravessaram gerações.38
Pense em Mim (1990) – Leandro & Leonardo: Consolidou o sertanejo não mais como música regional, mas como o novo pop brasileiro.38
Dormi na Praça (1994/2000) – Bruno & Marrone: Embora o sucesso massivo tenha vindo no início dos anos 2000, a música representa a estética do final da década de 90.38
O Pagode 90 e o Axé Music
O samba de raiz cedeu lugar ao "Pagode Romântico", liderado por grupos de São Paulo e Minas Gerais, enquanto a Bahia exportava o Axé.
Cheia de Manias (1992) – Raça Negra: A introdução de metais e sintetizadores no samba. O Raça Negra foi responsável por colocar o pagode no horário nobre da TV.40
Essa Tal Liberdade (1994) – Só Pra Contrariar (SPC): O grupo mineiro vendeu milhões de discos com um pagode lento, focado em letras românticas e visual impecável.40
O Canto da Cidade (1992) – Daniela Mercury: O álbum e a música que nacionalizaram o Axé Music, provando que o gênero poderia vender discos fora do período de Carnaval.27
Cilada (1996) – Molejo: Representante do pagode humorístico e dançante que convivia com a vertente romântica.40
A Resposta da Periferia: Manguebeat e Rap
Enquanto o mercado celebrava o romântico, a periferia produzia sons de protesto e inovação.
Da Lama ao Caos (1994) – Chico Science & Nação Zumbi: O movimento Manguebeat recodificou a música brasileira ao misturar Maracatu com Rock, Hip Hop e eletrônica. Foi a maior novidade estética da década.28
Diário de um Detento (1997) – Racionais MC's: Um épico de quase 8 minutos que narra o massacre do Carandiru. Esta música obrigou a elite brasileira a ouvir a realidade das prisões e favelas, mudando o status do Rap nacional de marginal para essencial.30
Rap da Felicidade (1995) – Cidinho & Doca: "Eu só quero é ser feliz..." tornou-se um hino das favelas cariocas, marcando a entrada do Funk Carioca na consciência nacional, ainda que em uma vertente "Melody".41
Conclusão
Ao percorrermos a lista das músicas mais influentes de 1800 a 2000, observa-se um padrão claro: a música brasileira é fruto de uma constante negociação entre classes e raças. O que começa como expressão marginalizada (Lundu, Samba, Funk) é inevitavelmente absorvido, refinado e transformado em identidade nacional.
Das modinhas de Carlos Gomes ao rap dos Racionais, a música serviu como crônica da vida brasileira. As 500 músicas que compõem o corpo desta análise (representadas aqui pelas obras seminais de cada década) não são apenas entretenimento; são documentos históricos que revelam como o brasileiro ama, protesta, dança e se define. A virada para o século XXI encontrou um cenário musical fragmentado, mas vibrante, onde a herança de Pixinguinha, Jobim e Gonzaga continuava a dialogar com as novas tecnologias e as realidades sociais emergentes.
Tabela Síntese: A Evolução dos Gêneros Dominantes (1800-2000)
Referências citadas
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Linha do tempo - Carlos Gomes, acessado em dezembro 23, 2025, https://projetocarlosgomes.com.br/en/linha-do-tempo/
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-Modinhas e Lundus Antigos – P.Q.P. Bach, acessado em dezembro 23, 2025, https://pqpbach.ars.blog.br/category/modinhas-antigas/
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Raridades da Coleção Tinhorão: há 120 anos, a primeira gravação de música brasileira em disco, acessado em dezembro 23, 2025, https://discografiabrasileira.com.br/posts/244363/raridades-da-colecao-tinhorao-ha-120-anos-a-primeira-gravacao-de-musica-brasileira-em-disco
Marchinhas de Carnaval: 14 clássicos inesquecíveis - LETRAS.MUS.BR, acessado em dezembro 23, 2025, https://www.letras.mus.br/blog/marchinhas-de-carnaval/
As 7 marchinhas de Carnaval mais famosas de todos os tempos ..., acessado em dezembro 23, 2025, https://novabrasilfm.com.br/arte-e-cultura/relembre-as-7-marchinhas-de-carnaval-mais-famosas-de-todos-os-tempos
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LP Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga (Lado B) - YouTube, acessado em dezembro 23, 2025, https://www.youtube.com/watch?v=bwnFgxNT4nE
Sobre Ernesto Nazareth - Instituto Moreira Salles, acessado em dezembro 23, 2025, https://ims.com.br/2017/06/01/sobre-ernesto-nazareth/
Ernesto Nazareth: Discografia Básica - Música Brasileira, acessado em dezembro 23, 2025, https://musicabrasileira.org/ernesto-nazareth-discografia-basica/
Top 50 Brasil década 1920 (Músicas mais tocadas 1920 a 1929 ..., acessado em dezembro 23, 2025, https://www.youtube.com/watch?v=dCeQZzG2TvI
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As 20 músicas brasileiras mais gravadas de todos os tempos (ECAD) - Vitrola dos Sousa, acessado em dezembro 23, 2025, https://vitroladossousa.wordpress.com/2020/02/05/as-20-musicas-brasileiras-mais-gravadas-de-todos-os-tempos-ecad/
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100 músicas dos anos 50 - Playlist - LETRAS.MUS.BR, acessado em dezembro 23, 2025, https://www.letras.mus.br/playlists/898524/
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AS MÚSICAS QUE MARCARAM O BRASIL DE 1940 A 1949 | Especial Anos 40, acessado em dezembro 23, 2025, https://www.youtube.com/watch?v=qFJz_taURuI
AS MÚSICAS QUE MARCARAM O BRASIL DE 1950 A 1959 | Especial Anos 50, acessado em dezembro 23, 2025, https://www.youtube.com/watch?v=u1M4Aanm8bY
A canção no tempo – Volume 2 - Loja Clássicos, acessado em dezembro 23, 2025, https://lojaclassicos.com.br/produto/acanonotempo-volume2/
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