Momento proprício pra comprar dólar Olha eu me aventurando a escrever sobre algo que eu não entendo, mas tem me dado curiosidade. (Economistas de plantão, me ajudem aí!) Uma notícia do dia 02 de setembro passou meio despercebida na mídia tradicional, mas é algo bem importante pro futuro a curto e médio prazo. O Brasil voltou às vitrines do mercado financeiro e saiu com US$ 1 bilhão em dívida externa, com vencimento em 2055 e juros salgados de 7,5% ao ano em dólar. Significa que esse cheque especial internacional vai vir com parcelas envenenadas por décadas. É a terceira emissão só este ano, algo que não se via há mais de uma década. Vou destrinchar aqui o que pode significar isso. O governo comemora como “confiança internacional”. Mas confiança de verdade seria se os juros fossem baixos e os prazos fossem justos. Quando se exige 7,5% em dólar, tá muito menos pra cliente VIP e muito mais pra “cliente que a gente tem que prestar atenção, viu?” DÉJÀ VU Anos 70 – “Milagre Econômico”: crédito externo barato impulsionou crescimento, mas a ressaca veio nos anos 80 com crise da dívida e hiperinflação. Planalto 90: FHC segurou o Real e renovou mandato com ajuda do FMI — deixou juros altos para a sequência. Lulas 1 e 2: boom das commodities ajudou, mas Dilma herdou déficit e recessão. Dilma → Temer: adiamento de aumentos virou pressão logo após a eleição, e Temer foi apontado como vilão do ajuste. O Brasil ama uma festa imediatista, mesmo que o boletão chegue três décadas depois. LULA (AINDA) NA CORDA BAMBA O cenário político é: Lula começa 2025 com popularidade em nível de emergência. Em fevereiro, aprovação era de apenas 24%, enquanto 41% consideravam seu governo ruim ou péssimo, de acordo com Datafolha. A desaprovação subiu para 51% em pesquisa do Quaest, com aprovação em 47%. Ainda em junho, UBS apontou que apenas 28% aprovavam sua gestão, contra 40% de desaprovadores. Um número considerado abaixo do limiar histórico para reeleição. Mas as tensões com os EUA deram um respiro: em julho, a aprovação saltou para 50,2%, superando a desaprovação (49,7%) pela primeira vez em nove meses. Uma viradinha impulsionada por sua postura com Trump. Mas essa aprovação não significa necessariamente que o governo soube gerenciar internamente a economia, inflação ou serviços públicos. O que puxou essa reação positiva foi muito mais a percepção externa do conflito com os EUA do que uma conquista concreta de gestão doméstica. Ou seja: de “em queda livre” para “empate técnico por uma respiração”. Mas ainda longe da folga política. E AS ELEIÇÕES DO ANO QUE VEM? No governo atual, esse empréstimo dá uma ideia de festa hoje, ressaca amanhã, se não houver reeleição. Oficialmente, o governo diria que esse empréstimo é só para reforçar reservas. Pode até ser. Mas em ano eleitoral, todo dólar que entra vira discurso de estabilidade. Na prática, essa narrativa abre espaço para gastar aqui dentro e posar sorrindo em placa de inauguração. O efeito político é inevitável, mesmo que indireto. Então fica parecendo aquela jogada clássica: comprar popularidade agora e empurrar a conta para ver quem estiver no governo da próxima década. Por outro lado, Bolsonaro, o principal adversário de Lula está com tornozeleira eletrônica e risco iminente de condenação a mais de 40 anos de prisão pelo STF. Isso significa duas coisas:
Quando tanto governo quanto oposição estão fragilizados, temos uma instabilidade grave:
De um lado, Lula compra fôlego com cheque especial em dólar. Do outro, Bolsonaro perde fôlego com tornozeleira eletrônica. E a gente fica no meio assistindo sem ar porque tá gritando a favor de alguém, ou porque parece que o país tá na montanha russa. CONCLUSÃO: BRASIL SENDO BRASIL Mesmo no começo do fim de 2025, já dá pra ver que o cenário eleitoral é tão disfuncional quanto a gestão da dívida. E se fosse uma festa de casamento, seria assim… O noivo da esquerda chega descabelado, devendo no cheque especial, mas fingindo que está tudo sob controle. A noiva da direita está sem maquiagem porque o maquiador foi preso, e as madrinhas estão disputando o buquê antes mesmo da cerimônia. Triste porque, na verdade, o Brasil não vai escolher entre esquerda e direita em 2026. A escolha será se a gente prefere pagar a conta agora ou parcelar até 2055. Atualmente, você é um assinante gratuito de Não É Imprensa. Para uma experiência completa, atualize a sua assinatura. |
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segunda-feira, 8 de setembro de 2025
#PagoFiado
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