INTRODUÇÃO: A ARTE DE ENSINAR E SUAS FERRAMENTAS - LEMOV
INTRODUÇÃO: A ARTE DE
ENSINAR E SUAS FERRAMENTAS
O bom ensino é uma arte. Em outros tipos de arte – pintura, escultura,
literatura –, os grandes mestres aproveitam sua prociência com
ferramentas básicas para transformar os materiais mais brutos (pedra,
papel, tinta) em patrimônios mais valiosos da sociedade. Essa alquimia
é ainda mais impressionante porque as ferramentas geralmente
parecem banais para outras pessoas. Quem olharia para um cinzel, um
macete e uma lima e os imaginaria produzindo o Davi, de
Michelangelo?
A grandiosidade da arte reside no domínio e na aplicação de
habilidades fundamentais aprendidas por meio do estudo diligente –
“destreza”, se você preferir. Você aprende a bater no cinzel com um
macete e rena essa habilidade com o tempo, aprendendo sobre o
melhor ângulo para a batida e a rmeza com que deve segurá-lo. Muito
mais importante do que qualquer teoria é sua prociência com o cinzel.
É bem verdade que nem todo aquele que aprende a usar um cinzel irá
criar um Davi, mas, ao mesmo tempo, aquele que não dominar a
ferramenta não conseguirá fazer mais do que algumas marcas na pedra.
Todo artista – incluindo os professores – é um artesão cuja tarefa é
estudar um conjunto de ferramentas e decifrar os segredos do seu uso.
Quanto mais você entender um cinzel, mais ele o guiará até descobrir o
que pode ser feito. Ao arredondar um contorno com uma suavidade
inesperada, o cinzel faz você perceber subitamente que é possível
acrescentar detalhes a uma expressão facial, mais tensão aos músculos
da gura que está esculpindo. O domínio do uso das ferramentas não
apenas permite a criação, ele a informa. Esse processo está longe de ser
glamoroso; a vida de um artista é, na verdade, a vida de um negociante,
caracterizada por calos e poeira de pedra, exigindo empenho e
humildade, mas suas recompensas são imensas. É o trabalho de uma
vida digna.
Viajando para o exterior no meu primeiro ano de faculdade, vi os
cadernos escolares de Picasso em uma exposição no Museu Picasso, em
Barcelona. O que mais me lembro são dos esboços preenchendo as
margens de suas páginas. Não existiam cadernos de desenho, imagine!
Eram cadernos como os de qualquer estudante: para anotar as
observações de aula. Os pequenos esboços imortalizavam o rosto de
um professor ou a própria mão de Picasso segurando um lápis, com
perspectiva, linhas e sombras perfeitas. Sempre pensei que o trabalho
de Picasso era abstrato, que representava uma forma de pensar que
tornava irrelevante a habilidade de desenhar com precisão e realismo.
Seus esboços contam outra história. Eles testemunham seu domínio
dos aspectos fundamentais da sua arte e o empenho constante em
aprimorar suas habilidades. Mesmo nos momentos de folga das aulas,
ele estava desenvolvendo os alicerces de sua técnica. Era, primeiro, um
artesão e, segundo, um artista, como atestam os 178 blocos com
esboços ao longo da vida.
Este livro é sobre as ferramentas do ofício de ensinar, e espero que
seja útil para os professores, onde quer que estejam. Mais
especicamente, ele apresenta um interesse especial no setor que é mais
importante para mim: escolas públicas, sobretudo as das periferias, que
atendem alunos nascidos na pobreza e que, portanto, seguem por um
caminho estreito e incerto até a oportunidade que merecem. Não é
possível que ter nascido com menos recursos nanceiros restrinja a
oportunidade de um indivíduo, certamente não em lugares em que se
acredita na meritocracia, mas a verdade é que isso acontece. O preço do
fracasso nas escolas que atendem alunos que se encontram no lado
errado da desigualdade de privilégios é frequentemente alto, e os
desaos, signicativos. Os professores, nesses lugares, geralmente
trabalham em um crisol onde os fracassos da sociedade são estruturais,
evidentes e, por vezes, quase esmagadores. No entanto, todos os dias,
em cada bairro como esse, existem professores que, sem muito
estardalhaço, acolhem os alunos sobre quem os outros dizem “não
consegue” – não consegue ler boa literatura, não consegue entender
álgebra ou cálculo, não consegue e não quer aprender – e os ajudam,
inspiram, motivam e transformam em acadêmicos que conseguem de
tudo. Lamentavelmente, com frequência não sabemos quem são esses
professores, mas eles estão em todos os lugares – em geral trabalhando
de maneira anônima, na sala ao lado de um dos professores que criarão
os 50% de novas contratações em distritos urbanos, aqueles que
abandonam a prática pedagógica nos primeiros três anos. Pense nisso:
para esses novos professores com diculdades, as soluções para os
desaos que acabarão levando-os a abandonar a prossão encontramse a poucos metros de distância. E, para os alunos dessas comunidades,
ingressar na sala de aula certa pode fazer as portas da oportunidade
voltarem a se abrir. O problema é que não levamos sucientemente a
sério o aprendizado dos professores que podem providenciar essas
soluções.
Meu objetivo foi encontrar o maior número possível de professores
desse tipo e homenageá-los focando e estudando a sua forma de
ensinar. Para escrever este livro, passei muito tempo no fundo de salas
de aula e assisti inumeráveis vídeos de professores excelentes em ação.
Usei a losoa de Jim Collins em Empresas feitas para vencer e Feitas
para durar: o que separa o ótimo do bom é mais relevante do que o que
descreve a mera competência. Eu não desejava saber o que fazia um
professor ser muito bom, mas o que o tornava excepcional, capaz de
superar as adversidades. Havia ideias consistentes que lhes
possibilitavam transformar vidas de forma mais conável? Havia
palavras e ações que o resto de nós poderia copiar e adaptar? Havia
tendências gerais que fornecessem o mapa da mina, os princípios por
trás da excelência? Ou sua excelência era idiossincrática e impossível de
ser mapeada?
O que descobri foi que, embora cada professor excelente seja único,
suas habilidades de ensino, como grupo, tinham elementos em comum.
Comecei a enxergar tanto o tema quanto a variação, e então passei a
fazer uma lista das coisas que eles faziam. Atribuí nomes a essas ações
para que pudesse me lembrar delas, e com o tempo a minha lista
cresceu não só quanto ao número de tópicos, mas também no nível de
especicidade. As ideias se integraram às técnicas. Descobri também
que os grandes professores tinham diferentes ideologias e estilos: “Eles
eram extrovertidos e introvertidos; planejadores e improvisadores;
espirituosos e sérios. Mas, no nal, uma história emergiu. No m das
contas, realmente existe uma caixa de ferramentas para suprir as
deciências no desempenho escolar. O conteúdo foi forjado por 10 mil
professores que trabalham discretamente e, em geral, sem
reconhecimento, em salas no m de corredores com o piso quebrado.
Estou certo de que parte da minha análise do que eles fazem está
errada. Na verdade, reescrevi este livro a partir do original para tentar
capturar mais do que eles fazem e com maior precisão. Um ponto que
tentei enfatizar é que ter uma ferramenta não é um argumento para
utilizá-la de forma descuidada. Um pintor tem uma maleta cheia de
pincéis e espátulas, mas não usa todos eles em cada retrato ou paisagem
que pinta.
Se você é um professor que está iniciando seu estudo da arte de
ensinar, meu objetivo é ajudá-lo a se tornar um desses educadores que,
durante uma longa e destacada carreira, libertam o talento e as
habilidades latentes nos alunos, independentemente do número de
tentativas anteriores malsucedidas. Se você se comprometer e investir
seus talentos nesse trabalho, merece ter sucesso e mudar vidas. Se
obtiver sucesso, provavelmente será mais feliz no trabalho e, dessa
forma, quando estiver feliz, fará um trabalho ainda melhor.
Se você já é um professor experiente, espero que a discussão das
ferramentas de ensino e suas aplicações e a construção de um
vocabulário para falar sobre os momentos críticos e muitas vezes
negligenciados do seu dia inspirem você não só a aperfeiçoar seu ofício,
mas também a gostar de fazer isso e sentir o prazer de se comprometer
(ou voltar a se comprometer) com o domínio mais profundo possível
da empreitada complexa e valiosa que é o trabalho da sua vida.
Presumo que, em muitos casos, este livro descreverá coisas que você já
sabe e faz. Acho isso ótimo e, nesse caso, meu objetivo será ajudá-lo a
melhorar um pouco mais esses aspectos, talvez ao ver aplicações úteis e
variações que você não havia considerado. De qualquer forma, seu
crescimento é no mínimo tão importante quanto o de um professor
iniciante. O ensino é a melhor e mais importante tarefa em nossa
sociedade. Aqueles que o exercem merecem vivenciar crescimento e
aprendizagem constantes. Isso, anal, é o que desejamos para nossos
alunos.
Se você dirige uma escola, espero que este livro o ajude a ajudar os
professores a fazer esse trabalho desaador da melhor forma possível.
Em nossa área, a primeira obrigação de uma organização é ajudar seus
integrantes a ter sucesso. Quando os professores terminam o dia com
uma sensação de dever cumprido, quando sentem que estão sendo cada
vez mais bem-sucedidos, eles permanecem em nossas escolas por um
longo tempo, desempenham um trabalho excepcional, trabalham com
alegria e inspiram outras pessoas, retribuindo em dobro o que
receberam da organização.
As páginas a seguir são um esforço para descrever e organizar as
ferramentas usadas por professores que querem mudar o jogo e para
reetir sobre como e por que eles as utilizam. Dessa forma, você poderá
tomar decisões informadas por conta própria.
Meu trabalho não foi inventar as ferramentas que descrevo aqui, mas
explicar como outras pessoas as utilizam e o que as torna efetivas. Isso
signicou dar nome a técnicas com o intuito de ajudar a criar um
vocabulário comum com o qual se pode analisar e discutir a sala de
aula. Os nomes podem parecer um pouco articiais inicialmente, mas
representam uma das partes mais importantes. Se não houvesse a
palavra democracia, seria mil vezes mais difícil ter e manter uma coisa
chamada “democracia”. Ficaríamos para sempre atolados na ineciência
– “Você sabe, aquela coisa sobre o que falamos onde todos têm voz...” –
justamente no momento em que precisássemos tomar uma atitude.
Professores e administradores devem ser capazes de falar com os
colegas rápida e ecientemente sobre um conjunto de ideias claramente
denidas e compartilhadas para que possam embasar seu trabalho.
Precisam de um vocabulário compartilhado sucientemente minucioso
para permitir uma análise abrangente dos eventos que acontecem em
uma sala de aula. Acredito que os nomes importam, e vale a pena
serem usados. Em geral, eles possibilitarão que você fale sobre sua
própria prática de ensino e a de seus colegas com uma linguagem
especíca e eciente.
Porém, quero deixar claro que, apesar dos nomes, o que é apresentado
aqui não é meu, tampouco é uma teoria. É um conjunto de anotações
de campo feitas a partir da observação do trabalho de mestres, alguns
dos quais você conhecerá neste livro, e muitos outros que não
conhecerá. Quero agradecer a todos eles pela dedicação e pelas dicas
que informaram e inspiraram esta obra.
TÉCNICAS APLICÁVEIS, CONCRETAS E
ESPECÍFICAS
Quando eu era um jovem professor, participava de ocinas de
treinamento e saía com a cabeça cheia de palavras importantes. Elas se
referiam a tudo o que me havia levado a querer ser professor. “Tenha
altas expectativas em relação a seus alunos.” “Espere o máximo dos
alunos todos os dias.” “Ensine crianças, não conteúdos.” Eu cava
inspirado, pronto para melhorar – até chegar à escola no dia seguinte.
Eu me via perguntando: “Bem, como faço isso? Que atitude devo tomar
às 8h25 da manhã para demonstrar essas altas expectativas?”.
O que me ajudou a melhorar minha forma de ensinar foi quando um
dos meus colegas me disse algo bem concreto: “Quando você quiser
que eles obedeçam a sua orientação, que parado. Se você car
andando pela sala, distribuindo materiais, parece que a orientação é
menos importante do que todas as outras coisas que você está fazendo.
Mostre que a sua orientação é importante. Fique parado”. Com o
tempo, foi esse tipo de conselho aplicável, concreto e especíco, muito
mais do que os lembretes de que eu devia ter altas expectativas, que me
permitiu, de fato, aumentar as expectativas na minha sala de aula.
Minha abordagem neste livro reete essa experiência. Tentei
descrever as técnicas dos professores excelentes de maneira aplicável,
especíca e concreta, de modo que você consiga começar a usá-las
amanhã mesmo. Optei por denominá-las “técnicas”, e não “estratégias”
– mesmo que práticas pedagógicas tenham a tendência de usar esta
última expressão – porque para mim uma estratégia é uma abordagem
generalizada que informa decisões, enquanto uma técnica é uma coisa
que você diz ou faz de uma maneira especíca. Se você quisesse ser um
velocista, sua estratégia poderia ser simplesmente correr o mais rápido
que puder do começo ao nal da pista; sua técnica seria inclinar o
corpo para a frente em cerca de cinco graus à medida que move suas
pernas para cima e para frente. Se você quisesse ser um grande
velocista, praticar e melhorar essa técnica o ajudaria a obter mais do
que renar sua estratégia. E, como uma técnica é uma ação, quanto
mais você praticar, melhor se tornará. Pensar cem vezes na sua decisão
de correr o mais rápido possível desde o começo da pista não vai
melhorar seu desempenho, mas praticar 100 corridas com a posição
certa do corpo vai. É por isso que, no m, concentrar-se em polir e
aprimorar técnicas especícas é o caminho mais rápido para o sucesso.
Também cabe observar que esse conjunto de técnicas não é um
“sistema”. Para mim, o benefício de considerar técnicas individuais é
que estas são unidades pequenas e discretas de investigação. Você pode
escolher alguma coisa que lhe interessa e estudá-la, melhorando
rapidamente e vendo os resultados. E pode incorporar uma técnica
nova ao que já faz sem ter de redesenhar toda sua abordagem ou
apostar tudo no livro. Como assinalam Chip e Dan Heath em seu livro
Switch, a forma como as pessoas encontram informações úteis tem
muito a ver com o fato de serem ou não bem-sucedidas em usá-las para
mudar e melhorar suas vidas. Muitas vezes, o que concluímos é que a
resistência à mudança – por parte dos professores, digamos – é, na
verdade, falta de clareza sobre o que fazer concretamente para começar
a mudança: “OK, entendo que devo ser mais rigoroso, mas como faço
isso, ou como começo a fazer isso de uma forma concreta e
executável?”. Apresentar às pessoas ferramentas a serem
experimentadas pode parecer menos eciente do que dar-lhes um
sistema abrangente que englobe tudo o que elas fazem, mas tentar fazer
tudo ao mesmo tempo é uma receita para a inação. Ter uma ideia
focada e executável na qual trabalhar pode ajudar a tornar a mudança e
a melhora seguras e fáceis de buscar, resultando na incorporação da
técnica à sua vida. Geralmente atingimos mais mudanças de longo
prazo por meio de pequenas mudanças de curto prazo.
Outra observação importante de Switch é que tendemos a supor que o
tamanho da solução precisa combinar com o tamanho do problema.
Você foi observado; foram feitas críticas; parece que você tem de fazer
mudanças generalizadas em tudo o que você faz. Será que precisa?
Talvez apenas se conectar com alguns alunos que parecem
desinteressados por meio da chamada De surpresa ou preparar-se
diferentemente para que possa ouvir melhor durante suas aulas faria
uma enorme diferença e colocaria outras coisas no lugar. Com
frequência, mudanças pequenas fazem uma grande diferença.
A ARTE DE USAR AS TÉCNICAS
Muitas das técnicas que você encontrará neste livro podem
inicialmente parecer triviais e banais. Elas nem sempre são
especialmente inovadoras; nem sempre são intelectualmente
surpreendentes. E, por vezes, não acompanham a marcha da teoria
educacional. Mas, se usadas bem e com responsabilidade, produzem
um resultado que certamente compensa sua aparência humilde. Elas
valem seu tempo e esforço algumas vezes porque são tão triviais e fáceis
de negligenciar. Simples e útil podem ser palavras bonitas. Mas quero
enfatizar que a arte está na aplicação discricionária das técnicas. Tentei,
com esta obra, ajudar artesãos a se tornarem artistas, não porque acho
que o trabalho de ensinar pode ser mecanizado ou transformado em
fórmulas. Existe um tempo e um lugar certo (e errado) para cada
ferramenta, e sua aplicação efetiva sempre dependerá do estilo e da
visão únicos dos grandes professores. Isso, em uma palavra, é arte. A
excelência do ensino não é menos grandiosa porque o professor
sistematicamente dominou habilidades especícas, da mesma forma
que Davi não reete menos o gênio de Michelangelo só porque ele
dominava a linguagem do cinzel antes de ter criado a estátua. Acredito
que, dadas as ferramentas aqui apresentadas, os professores tomarão
decisões sensíveis e independentes sobre como e quando usar as
técnicas desse ofício enquanto trilham o caminho para se tornarem
mestres na arte de ensinar.
DEFININDO O QUE FUNCIONA
Se você já ouviu falar das versões anteriores deste livro, sabe que meu
processo para encontrar os professores que estudei iniciou como as
notas nos testes. Procurei indivíduos e escolas que, nos grácos da
pobreza, eram “pontos fora da curva”. Eram professores (e algumas
vezes escolas inteiras) que trabalhavam com alunos em bairros onde
frequentemente apenas uma fração deles se formava no ensino médio,
uma ainda menor na universidade, ou onde tipicamente apenas 10 ou
20% dos alunos eram aprovados em um determinado teste estadual
(uma medida do progresso incompleta, mas ainda importante) em um
ano típico. E, embora trabalhando nesse mesmo cenário, os professores
que eu estava estudando ajudavam seus alunos a atingirem uma taxa
muito mais alta do que qualquer um teria previsto: conseguiam o dobro
de alunos aprovados... ou até quatro vezes o número de alunos
aprovados. Havia casos em que todas as crianças eram aprovadas.
Algumas vezes esses professores conseguiam mais crianças com
avaliação “avançada” do que aquelas com avaliação “prociente” nas
escolas da redondeza. Seus resultados frequentemente compensavam a
lacuna existente entre crianças nascidas na pobreza e crianças nascidas
com privilégios.
As notas nos testes, é claro, são uma medida imperfeita. Elas nos
contam muito, mas estão longe de dizer tudo, e geralmente são mais
bem utilizadas para gerar e testar hipóteses: você observa uma série de
professores com resultados incomumente fortes e começa a ver as
tendências e semelhanças. Assim, sempre que possível, tentei usar o
máximo de dados adicionais que podia e procurei sinais que fossem
duradouros – resultados sustentados em contraste com picos que
ocorreram uma única vez. Quando uma escola tinha sucesso por um
longo tempo, eu também considerava as diretrizes do diretor e sua
contribuição com o fornecimento de materiais aos professores. Embora
existam dados que sugerem que a maioria dos diretores pouco
inuencia na identicação dos melhores professores, os diretores muito
bons são, é claro, diferentes da média. Podemos argumentar que a razão
para terem sucesso é sua habilidade de entender quais professores têm
o estilo de ensino especialmente eciente. E com o tempo passei a
depender da minha equipe – no momento eles já passaram centenas e
centenas de horas estudando e discutindo vídeos de salas de aula – para
identicar momentos que seriam úteis para os professores estudarem –
momentos que eram replicáveis, e adaptáveis, e provavelmente
ajudariam os professores a ajudar seus alunos a prosperar.
PEDRA ANGULAR
Conforme mencionei no Prefácio, uma mudança importante nesta
terceira edição do livro é a inclusão dos vídeos chamados Pedra
Angular, que mostram como uma seleção de professores
verdadeiramente excepcionais usam e combinam técnicas durante um
arco de tempo prolongado da sua aula. O conjunto desses vídeos
mostra como as peças se encaixam e ajuda a equilibrar a inevitável
distorção de ver apenas uma única técnica com um foco acentuado.
Apresento a seguir uma lista com os vídeos Pedra Angular e algumas
das coisas que aprecio na arte dos professores que eles perlam. Espero
que você os assista muitas vezes. Se você é diretor de uma escola ou se
capacita professores, acho que eles são ideais para serem assistidos e
estudados repetidamente.
Julia Addeo (North Star Academy HS, Newark, NJ): a excepcional
Vericação da compreensão (Capítulo 3) de Julia é ativada pelo
Planejamento exemplar (técnica 1). Sua revisão do Faça agora (técnica
20) se baseia em um equilíbrio dos Meios de participação (técnica 36)
que inclui chamada De surpresa (técnica 34) e Mostre o texto (técnica
13). Não há um minuto de tempo desperdiçado.
Akilah Bond, na época na Leadership Prep Carnaise Elementary
School, está lendo uma narrativa de Cam Jansey com seus alunos do
segundo ano. Seu Tempo de espera (técnica 33) é exemplar. Ela usa o
Todas as mãos (técnica 29), pedindo que os alunos abaixem suas mãos
para que seus colegas não se sintam apressados, e assegura um
produtivo Tempo de espera estimulando habilidades do pensamento.
Ela insiste em ter respostas “corretas em todos os aspectos” (Certo é
certo, técnica 16). Quando Anthony responde, você pode ver como ele
usa os Hábitos de discussão (técnica 44) para mostrar que estava
ouvindo e como os Hábitos de atenção (técnica 48) de seus colegas
fazem com que ele se sinta conante enquanto se esforça para explicar
seu modo de pensar. E, quando Michael se sai muito bem, seu triunfo é
em parte provocado por claros procedimentos e rotinas (Capítulo 10) –
os alunos sabem que não devem se manifestar enquanto ele está
pensando.
Jessica Bracey: lendo com seus alunos do 5º ano na North Star
Academy Clinton Hill Middle School, Jessica executa um Leitura em
FASE (técnica 24) padrão ouro, com seus alunos demonstrando prazer
e habilidade ao dar vida a um livro. Ela usa um Antecipe a escrita
(técnica 40), pedindo que eles respondam por escrito antes de
discutirem o livro. Seus exemplares procedimentos e rotinas (Capítulo
10) signica que eles transferem todo seu pensamento para a página, e
seu Solo silencioso (técnica 39) signica que eles estão reetindo
profundamente sobre sentenças completas o tempo todo. Não é de
admirar que eles estejam tão ansiosos por compartilhar! Quando o
fazem, você pode ver uma combinação de Hábitos de atenção (técnica
48), assegurando que eles escutam bem, e Hábitos de discussão (técnica
44), desenvolvendo as habilidades de escuta que contribuem para uma
real discussão.
Na’Jee Carter: escrevo extensamente sobre o De surpresa (técnica 34)
de Na’Jee no vídeo no Capítulo 7, mas observo também os Hábitos de
discussão (técnica 44): seus alunos escutam e também falam. Seus
impecáveis procedimentos e rotinas (Capítulo 10) não só ajuda a
manter seu grupo de leitura na tarefa e assegura que as transições sejam
ecientes, como também garante que os alunos que não estão em seu
grupo de leitura estejam, de maneira alegre e produtiva, engajados o
tempo todo. Sua Leitura independente responsável (técnica 23) é super
produtiva porque ele é muito claro na orientação da tarefa, e isso lhe
permite observar claramente como seus leitores estão se saindo; mas,
antes de mandar todos lerem, ele aplica um Substitua o autorrelato
(técnica 6), fazendo aos alunos uma série de perguntas para avaliar sua
compreensão da tarefa em vez de meramente perguntar a eles se
entenderam.
Denarius Frazier (Uncommon Collegiate Charter High School):
discuto extensamente uma parte do vídeo dele no Capítulo 3,
“Verique a compreensão”. Denarius demonstra quase todas as técnicas
no capítulo, iniciando com a Observação ativa e encerrando com o
Mostre o texto de uma maneira que é fundamental para a compreensão
da realidade do quanto relacionamentos produtivos e duradouros são
construídos na sala de aula. Mas observe também como ele se desloca
para o canto e usa um Olhar de radar/ser visto observando (técnica 53) e
uma Intervenção menos invasiva (técnica 55) para assegurar que todos
estejam atentos. E note como seu Equilíbrio emocional (técnica 62) o
auxilia a construir uma Cultura do erro (técnica 12), que deixa os
alunos participantes interessados na tarefa de aprender com seus erros.
Arielle Hoo (North Star Vailsburg Middle School) pede que seus
alunos escrevam, em um momento importante da aula, sobre como eles
saberão se uma solução está correta. Observe a palavra “conjecturas” –
esse é um ótimo exemplo de um estímulo formativo que não só torna
seguro estar errado, mas socializa os alunos a pensarem na escrita
como algo que você faz para descobrir novos insights, não apenas para
explicá-los. Esse é um aspecto fundamental do Todo mundo escreve
(técnica 38). Observe o Solo silencioso (técnica 39): todo mundo escreve
imediatamente. Note como a discussão exemplar que ela tem, cheia de
insights interessados e vocabulário técnico, inicia com ela, como
Denarius, movendo-se para o “Poleiro de Pastore” e usando um Olhar
de radar/ser visto observando (técnica 53) para se assegurar que todos
estão com ela. Sidney dá início à discussão (muito bem), e o contato
visual e a linguagem corporal pró-social que ela recebe (técnica 48,
Hábitos de atenção) a fazem lembrar – e a todos os demais – que o que
você está dizendo é importante. Em seguida Sadie fala, hesitando
enquanto usa o termo técnico coincidentes para descrever duas linhas.
Possivelmente essa é a primeira vez que ele usou esse termo. Note como
ele persiste e corre o risco de fazê-lo. Os Hábitos de atenção ajudam,
mas também ajuda uma conexão mais intensa com os procedimentos e
rotinas (Capítulo 10): ninguém anuncia a resposta, faz gestos com a
mão ou diz alguma coisa que distraia enquanto ele se esforça para usar
a palavra correta. A sequência termina com os alunos revisando suas
conjecturas originais por escrito, um exemplo da revisão sobre a qual
você pode ler em Antecipe a escrita e Revisão regular (técnicas 40 e 42).
Sadie McCleary (Western Guilford High School): o Ritmo (Capítulo
6) e os Meios de participação (técnica 36) de Sadie são brilhantes –
talvez o último levando ao primeiro –, e os discuto longamente mais
adiante no livro, sem mencionar seus Quadro = papel (técnica 22),
Virem e conversem (técnica 43) e Todos juntos (técnica 35). Ela tem
sucesso em todas essas técnicas porque suas orientações com O que
fazer (técnica 52) deixam muito claro aos alunos como participar e ser
bem-sucedidos. O estilo fácil, caloroso e gracioso de Sadie expressa
responsabilização amorosa.
Narlene Pacheco: trabalhando com seus alunos do jardim de infância
na Immaculate Conception School no Bronx, Narlene é extremamente
clara sobre como participar com sucesso por meio de uma combinação
de economia de linguagem (veja a técnica 58, Voz de comando) e
orientações em O que fazer (técnica 52), o que articula com imenso
carinho. Ela também é ótima na observação dos erros (Observação
ativa, técnica 9) enquanto constrói uma Cultura do erro (técnica 12),
corrigindo os erros sem ao menos uma pitada de julgamento ou
negatividade.
BreOnna Tindall: observar sua turma na Denver School of Science
and Technology me levou a cunhar o termo “espelho brilhante” – a
ideia de que Breonna está mudando os alunos e, ao mesmo tempo,
deixando que eles se revelem. Ela está proporcionando algo que é novo
e dando aos alunos a chance de mostrar o que já está ali. Ela inicia com
um Virem e conversem (técnica 43) impecável, mas observe como seu
sistema permite que ela varie os “colegas ao seu lado” e os “colegas
sentados à sua frente”. Tudo isso é incorporado ao hábito e mostra o
quanto procedimentos e rotinas (Capítulo 10) impecáveis conduzem a
um ambiente caloroso, conável e encorajador. A cordialidade da sua
chamada De surpresa (técnica 34) mostra o quanto essa técnica é
realmente inclusiva.
Christine Torres: você já leu um pouco sobre o estilo de ensino de
Christine na Springeld Prep em Springeld, Massachusetts, no
Prefácio – a mágica com a qual ela dá vida a O formato importa (técnica
18), Hábitos de atenção (técnica 48) e Hábitos de discussão (técnica 44).
O Capítulo 2 inicia com uma discussão da sua preparação. Para fazer o
Pedra Angular tive que cortar duas seções da sua aula – a revisão e a
discussão do vocabulário – porque raramente vi uma aula onde os
alunos participassem com tanto empenho e disposição, e seu estilo
pessoal lúdico combinado com a constante responsabilização amorosa
faz a turma cantar.
Nicole Warren: a aula com seus alunos do 3º ano na Leadership Prep
Ocean Hill Elementary Academy tem muita vida desde o início. Há um
rápido cântico em que todos estão incluídos (o Capítulo 10,
“Procedimentos e rotinas”, ajudará você á a fazer isso). Então ela vai
direto para o Virem e conversem (técnica 43). Em seguida, faz uma
chamada De surpresa (técnica 34) antes de fazer a transição para a
prática independente. Também há uma Prática da recuperação (técnica
7). O movimento de cada atividade para a seguinte é um modelo do
tipo de uxo que uma lição ritmada pode desenvolver (Capítulo 6).
Observe em particular quão bem ela desenvolve o Marque as etapas
(técnica 28) com rápidas transições como “Diga ao seu colega” e “Vá
trabalhar!”, além da economia de linguagem (parte da técnica 58, Voz
de comando). O pequeno Todos juntos (técnica 35) de “Feliz
Aniversário” deixa Crystal com um sorriso no rosto. Também há uma
Observação ativa (técnica 9) de primeira linha e um Padronize o
formato (técnica 8) que lhe permitem saber como os alunos estão se
saindo e construir relações positivas e calorosas que você sem dúvida
vai conseguir observar.
Gabby Woolf: lendo O médico e o monstro com sua turma de alunos
de 10 anos na King Solomon Academy, em Londres, Gabby demonstra
uma maravilhosa Leitura em FASE (técnica 24) enquanto seus alunos
tornam o signicado audível. Em seguida, há algumas chamadas De
surpresa (técnica 34) enquanto ela aplica o Substitua o autorrelato
(técnica 6) com perguntas focadas para examinar a passagem. Ela se
certica de reforçar que a discussão comece com ser ouvido,
enfatizando o formato audível de O formato importa (técnica 18). Seu
Circule (técnica 25) é excepcional, e suas orientações com O que fazer
(técnica 52) mantêm todos na tarefa: “O texto na frente de vocês, por
favor”. Há um ótimo Puxe mais (técnica 17), também, quando ela diz
“O que imaginamos quando lemos a palavra ‘porretada’?” “Neandertal”,
responde um aluno rápido. Essa é uma boa resposta, e Gabby a
reconhece seguindo com mais perguntas: “Por quê?”. Quando ele
explica: “Então como isso se relaciona com o personagem de Hyde?”. A
mensagem é: a recompensa para perguntas certas são perguntas mais
difíceis, embora a resposta dele seja um tipo de recompensa, também.
Sarah Wright: lendo Esperanza rising com seus meninos do 5º ano na
Chattanooga Prep, em Chattanooga, Tennessee, Sarah prova que a
melhor maneira de fazer com que os alunos tenham prazer com a
aprendizagem é ter procedimentos claros (Capítulo 10, “Procedimentos
e rotinas”) para que tudo funcione adequadamente e os alunos saibam
como fazer as coisas. Seus alunos escrevem primeiro, antes de darem
início ao Virem e conversem (técnica 43). Sua circulação aqui permite
que ela escute algumas respostas interessantes e prestigie o aluno
fazendo com ele uma chamada De surpresa. Observe também como,
quando Akheem lê sua frase, todos na aula estão olhando para ele e
mostrando com sua linguagem corporal que suas palavras têm
importância (técnica 48, Hábitos de atenção). Observe como o Virem e
conversem ganha vida, porque ela tem um sinal claro para a técnica,
porque os alunos a praticaram e porque eles sabem que todos os
colegas vão se juntar a eles com entusiasmo. Note como o Virem e
conversem termina rapidamente quando necessário, pois ela também
tem um procedimento claro e já estabelecido para chamar a turma de
volta à ordem. Observe como ela utiliza um sistema seu para permitir
que todos valorizem o trabalho uns dos outros e como, por mais que
queiram muito responder, os alunos não manifestam suas respostas;
isso possibilita que Sarah faça uma chamada De surpresa e dê a
Akheem a chance certa no momento certo. A alegria é perceptível. Os
procedimentos claros, a estrutura, os sistemas e as rotinas não são sua
antítese, mas parte da sua origem.
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