No último dia 6 de agosto, o ex-secretário adjunto do Departamento de Estado dos EUA, Mike Benz, prestou depoimento à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. Ligado ao primeiro governo Trump e hoje à frente da Foundation for Freedom Online, Benz acusou o governo Biden de ter interferido diretamente nas eleições brasileiras de 2022 por meio de uma rede que envolveria CIA, Usaid, NED, Atlantic Council, Wilson Center e outras entidades americanas. Segundo Benz, essa rede teria despejado mais de US$ 90 milhões em ONGs, agências de checagem e veículos de mídia com o objetivo de censurar a direita e favorecer Lula. Ele citou parcerias com o TSE, treinamentos para jornalistas e até mencionou o ministro Luís Roberto Barroso como interlocutor com o NED. A denúncia incluiu slides, documentos públicos e nomes como a Globo, Meedan, Projeto Comprova, Abraji, entre outros. Quem divulgou o depoimento de Benz deixou bem claro que ele não apresentou provas conclusivas. No entanto, quando confrontamos a sua fala com uma reportagem publicada dois anos antes pela Folha, o que parece uma teoria da conspiração se tornar uma hipótese bastante razoável. Em 22 de junho de 2023, a Folha traduziu uma investigação do Financial Times que revelou uma campanha diplomática coordenada pelo governo Biden para evitar uma ruptura institucional no Brasil. A operação envolveu CIA, Departamento de Estado, Pentágono e Casa Branca, e teve como alvo militares e aliados de Bolsonaro.
Tudo sob o manto sagrado da neutralidade quanto aos candidatos. Entre os interlocutores brasileiros estavam Arthur Lira, Tarcísio de Freitas e figuras do alto comando militar. Durante a campanha, o governo americano teria enviado sinais públicos e privados para desestimular qualquer contestação às urnas.
O secretário da Defesa Lloyd Austin, reservadamente, deixou claro para os militares brasileiros quais seriam as consequências de um apoio deles a qualquer ação que pudesse ser constitucionalmente questionável. Ameaçou? Não. O objetivo era impedir um golpe - mas só um. Houve ajuda, inclusive para obtenção de componentes para oferecer assistência técnica ao processo eleitoral. O ex-embaixador americano Anthony Harrington contatou fabricantes de chips para “fazer distinções nas necessidades de semicondutores e dar prioridade ao impacto sobre eleições democráticas”. Após a vitória de Lula, o esforço continuou: Tarcísio e Lira foram mobilizados para convencer Bolsonaro a aceitar o resultado.
A operação, descrita como “discreta, mas incomum” por ex-funcionários do Departamento de Estado, não terminava aí. No 8 de janeiro, Biden estava no México e ligou para Lula assim que soube da bagunça. Segundo um “alto funcionário da administração” entrevistado:
Entre as motivações para toda essa orquestração dos americanos, dois motivos foram apresentados como principais.
Se Biden queria proteger eleições livres e justas, certamente, Trump está interessado só em proteger a liberdade de expressão no Brasil. O grande objetivo é evitar que se cometa uma injustiça com Bolsonaro. Biden queria evitar um capitólio tropical. Não conseguiu. Mas Lula venceu. Militares indóceis foram devidamente domesticados. Encarceramento até do vendedor de bandeirinhas do 8 de janeiro. Capatazia garantida com Moraes. A democracia venceu! Biden agora poderia contar com o democrata estadista brasileiro... Só que não. Após todo esse esforço “discreto” e “diplomático”, Lula virou as costas para os EUA. Em vez de estreitar laços com Washington, o presidente brasileiro abraçou a China, ampliando acordos comerciais e estratégicos com Pequim. Segundo a mesma reportagem da Financial Times na Folha, isso deixou o governo Biden perplexo. O máximo que Lula fez por Biden – e não pelo Brasil – foi chamar Trump de nazista pouco antes de ele ser eleito. Diante de tudo isso, a fala de Benz ganha uma boa camada de plausibilidade. Ele não inventou do nada a ideia de interferência americana. Ele acrescentou alguns complementos ainda não investigados a uma operação real, documentada e admitida por autoridades dos dois países – inclusive Luis Roberto Barroso. A diferença está no tom: enquanto o Financial Times descreve a ação como preventiva e preocupada com a democracia; Benz a apresenta como permeada por manipulação eleitoral, interferência indevida e censura. No fundo, como sempre, isso tem relação com qual interferência é do bem. Tanto Lula quanto Bolsonaro flertam com rupturas. Cada um a seu modo. Mas só um é tratado como golpista. Biden, discreto, interferiu com luvas de veludo contra Bolsonaro. Trump, espetaculoso, com tweets inflamados investe contra Lula. Ambos não devem ser favoráveis a ninguém a não ser eles próprios. Têm como principal motivação a ampliação dos seus próprios domínios ideológicos e o Brasil é útil para isso, pois sempre está disposto a ser tutelado. O fato inabalável é que Lula3 não aceitou a tutela americana - nem com Biden muito menos com Trump - desde o primeiro dia de governo. Já escolheu os tutores do Brasil e por eles se humilha e nos humilha quanto for preciso. Atualmente, você é um assinante gratuito de Não É Imprensa. Para uma experiência completa, atualize a sua assinatura. |
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sábado, 9 de agosto de 2025
#BrasilComS
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