Obrigado pela sua leitura! A Filosofia Destrói A Ciência?A primeira parte de uma série de Gabriel Ferreira sobre um assunto importante para todos nós (mas você não sabe disso)Por Gabriel FerreiraNa introdução de seu excelente The strife of systems, dedicado ao problema - ele mesmo fonte de litígio filosófico - da histórica discordância entre filósofos como certo caráter essencialmente natural à filosofia, Nicolas Rescher faz a seguinte citação de Russel:
E comenta em seguida:
A ideia de que a filosofia termina onde começam as ciências específicas - ou como diz Russell, nos conhecimentos definidos - é recorrente e, no fim das contas, ajuda a cristalizar a ideia que vem sendo gestada de maneira mais robusta ao menos desde a segunda metade do século XIX, que a filosofia torna-se (1) dispensável frente aos conhecimentos científicos ou (2) pode pretender no máximo ser um discurso de segunda ordem, isto é, as ciências falam sobre o mundo e a filosofia pode, no máximo, falar sobre a estrutura e os pressupostos da ciência. Contudo, Cassirer aponta para um aspecto que, na verdade, indica um fato singular da relação entre filosofia e os “conhecimentos definidos” que não deveria ser menosprezado. Em 1935, ao assumir sua posição de professor na Universidade de Göteborg, na Suécia, Cassirer proferiu uma conferência intitulada Der Begriff der Philosophie als Problem der Philosophie (O conceito de filosofia como problema filosófico). A costumeira erudição avassaladora de Cassirer ataca o problema partindo de uma distinção entre Platão e Aristóteles e avança pela história da filosofia tendo em Kant um ponto de viragem. A conferência é uma jóia e está publicada numa coletânea de ensaios e conferências traduzida e organizada por Donald Verene (Yale UP, 1979). No entanto, para o que nos interessa aqui, quero enfatizar dois excertos que explicitam uma visão de filosofia que não apenas responde ao “desafio” posto pela concepção de Russell acima, como impõe uma tarefa essencial que talvez estejamos deixando de lado. Ao tratar dos resultados e conquistas das ciências específicas, Cassirer afirma:
Ou seja, mesmo que todas as “investigações particulares” cheguem a termo, ainda restaria uma “questão decisiva”, a saber, a como compreender o todo dessas concepções, sua finalidades e seu sentido? Note-se que não se trata aqui de uma unidade metafísica que concatenasse a priori, à maneira de um fundacionalismo filosófico típico de um idealismo absoluto, mas como tais produtos - intelectuais ou práticos - se coordenam no todo factual da cultura humana. À filosofia cabe, portanto, uma tarefa descritiva, mas também normativa em relação à cultura. Mesmo que as ciências específicas descrevam a totalidade dos fatos e de suas leis, o problema da significação do mundo tal como descrito pela ciência ainda permanece sendo um problema para nós. O problema platônico do uno e do múltiplo manifesta-se também nos produtos da cultura humana: “como a multiplicidade descritiva da ciência se coordena na experiência una de sentido humana?” talvez seja a questão primordial da filosofia no mundo que produzimos. Assim, o último produto da razão que se desdobra em conhecimentos específicos é o autoconhecimento em vista de sua unidade. É por isso que:
E é por isso que Cassirer, que enxerga muito mais longe do que Russell, é quem está correto sobre o papel e a natureza da filosofia. [Continua]Visitem e assinem o Substack do Gabriel Ferreira, aqui.*** Quem quiser colaborar com o meu trabalho, além do valor da assinatura desta newsletter pessoal, pode me ajudar por meio do pix: martim.vasques@gmail.comE quem quiser apertar o botão abaixo só para fazer a minha felicidade - e manter essa newsletter de modo mais profissional, be my guest: You're currently a free subscriber to Presto. For the full experience, upgrade your subscription. |
Total de visualizações de página
terça-feira, 22 de julho de 2025
A Filosofia Destrói A Ciência?
Assinar:
Postar comentários (Atom)

Nenhum comentário:
Postar um comentário