Primeiro Ato — A jovem poetisa Francisca Júlia da Silva (1871-1920), aos quatorze anos, já demonstrava sensibilidade singular, a ponto de O Estado de S. Paulo publicar seus poemas. É de sua lavra Musa Impassível:
Encantava, com seus versos e sua beleza feminina, a nata paulistana. Tornou-se famosa e conquistou admiradores. Porém, como o amor guarda seus mistérios, apaixonou-se por um sujeito simples: um telegrafista da Central do Brasil. Casaram-se em 1909. Vitimado pela tuberculose, seu marido faleceu em 1920. Desolada, horas após o enterro, ela tirou a própria vida com uma overdose de narcóticos. Seu corpo foi sepultado no Cemitério do Araçá. Morreu antes de completar cinquenta anos. Segundo Ato — Foi Washington Luís, enquanto presidente de São Paulo (governador), que encomendou, em viagem à Europa, uma escultura a Victor Brecheret, então residindo em Paris. Brecheret aceitou o desafio. Não cobraria pelos serviços, desde que pudesse esculpir a peça em seu estúdio parisiense; a contrapartida seria o envio de um bloco bruto de mármore de Carrara e a garantia de que a obra chegaria ao Brasil. Terceiro Ato — Sandra, motivada pelo zelo pela memória do pai, ofereceu seus préstimos à prefeitura e ao governo. A solução encontrada foi salomônica: substituir a escultura por uma réplica idêntica, em bronze patinado — resistente ao tempo — que permaneceria no mausoléu, enquanto a obra original encontrava morada (e cuidado) na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Como toda obra de arte que excede em beleza e talento, diante desta escultura, é impossível permanecer impassível. Afinal, a musa centenária inspirou cuidado e admiração, redundando em inciativa que a fez atravessar o tempo e resistir às suas intempéries. Só a arte nos salva. (a continuar) Atualmente, você é um assinante gratuito de Não É Imprensa. Para uma experiência completa, atualize a sua assinatura. |
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quarta-feira, 3 de dezembro de 2025
#SóAArteSalva(2)
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