Obrigado pela sua leitura! ESTA NEWSLETTER ENTRARÁ EM FÉRIAS E VOLTARÁ APENAS EM MARÇO DE 2026, COM UMA NOVA PROGRAMAÇÃO, SALVO EVENTUAIS EXCEÇÕES.DESEJAMOS AOS LEITORES UM FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO!*** Em um texto para a Folha de São Paulo, publicado em 1979, quando ainda havia uma imprensa minimamente decente, Paulo Francis escreveu a respeito do lançamento de Tieta de Agreste, best-seller de Jorge Amado, e afirmou o que hoje todo mundo já está cansado de saber: a nossa literatura é incapaz de criar um romance que faça o povo se espelhar na sua elite. Com aquela perspicácia ímpar, Francis dizia que Jorge Amado ganhava a sua vida com sucessos sobre a ralé, e isto acontecia, sem dúvida, por causa das suas pretensões socialistas, sempre em homenagem a Stalin. É o que me lembrei assim que terminei a última temporada da série The Crown, concebida por Peter Morgan - e que teve uma recepção tépida no jornalismo cultural. Para quem ainda vive no Planeta Terra, The Crown é sobre a vida da Rainha Elizabeth Regina, também conhecida como Elizabeth II, a mais longeva de todas as monarcas inglesas, falecida em 2022. O seriado abarca mais de seis décadas de reinado - o que significa que o público teve a oportunidade de ver a sua ascensão ao trono, o relacionamento fiel com Philip, Duque de Edimburgo, e a educação tumultuada de seus filhos, em especial o príncipe Charles, hoje sagrado como rei Carlos III após a morte da mãe. Além disso, há uma parte que todo mundo queria ver reconstituída: a do casamento e divórcio de Charles com Diana Spencer, a Lady Di, que hoje todo mundo se lembra por causa da sua morte trágica em Paris, durante uma perseguição automobilística provocada pelos paparazzis. Esta última parte de The Crown aborda exatamente esse momento - e, por coincidência, foi aí que também começou o desinteresse da imprensa pela série. Os comentários foram os mesmos e sempre mortíferos: “medíocre”, “sem graça”, “perdeu o brilho das temporadas anteriores”. Não vou negar que, nas últimas temporadas, a série de fato foi incapaz de ter o mesmo brilho e a mesma intensidade dos episódios iniciais, em especial aqueles que mostraram a Elizabeth jovem, interpretada pela revelação que foi Claire Foy. Mas essa falta de intensidade foi substituída por uma espécie de maturidade que, pouco a pouco, revelou ser o verdadeiro tema da empreitada criada por Peter Morgan. Morgan é um dos dramaturgos e um dos roteiristas mais celebrados da Inglaterra. Foi o autor de Nixon vs. Frost, de Ron Howard, e de Além da Vida, de Clint Eastwood. Porém, além disso, ele escreveu uma espécie de trilogia informal sobre os anos 1990 do governo da Inglaterra, com três peças: The Queen (depois transformado em um excelente filme dirigido por Stephen Frears, com Helen Mirren como Elizabeth, papel que lhe deu o Oscar de Melhor Atriz), The Special Relationship (a respeito da dobradinha Bill Clinton e Tony Blair, naqueles anos da tal da “terceira via”) e The Audience (sobre as relações de Elizabeth com seus diversos primeiros-ministros, de Winston Churchill a David Cameron). Com The Crown, Morgan aproveitou todo o material dessas peças e criou a série monumental para a Netflix, que se tornou um sucesso nos quatro cantos do globo. A diferença entre as peças anteriores e o novo seriado é que aquelas eram sobre como a aristocracia era obrigada a se render diante dos novos tempos democráticos para se reinventar, enquanto The Crown é a respeito de uma estrutura de poder implacável que destrói a individualidade de quem faz parte dela - e assim também aniquila suas vidas, como se fosse algo similar a um mecanismo de sacrifício constante. Morgan explicita este tema justamente na última temporada, a que envolve o martírio midiático de Diana Spencer. Ocorre que, para ele, a verdadeira tragédia da então Princesa de Gales está no fato de que ela percebeu como funcionava essa máquina sacrificial - e, quando iria fugir disso tudo, morreu. Esta “iluminação interior” perpassa todos os personagens, de Elizabeth a Charles, até chegar a Philip, que parece ser o único que conseguiu compreender a grandeza da esposa ao lidar com todos esses paradoxos mortais durante seu longo reinado. Não à toa que, depois da interpretação exuberante de Claire Foy, temos as máscaras cada vez mais enigmáticas de Olivia Colman e Imelda Staunton, em que esta última é basicamente uma estátua, tamanha a impassividade da sua dor. E há um motivo dramático para esse recurso: Peter Morgan faz justamente aquilo que Paulo Francis nos aconselhou a praticar em nossa literatura. Ou seja: a aristocracia aprende com seus erros e é a única forma de manter o “mistério da tradição” para um povo que precisa dele de maneira desesperada. Com todos os problemas da realeza britânica (e há muitos, sem dúvida), ainda assim Morgan quer nos exibir, em um espelho confuso, como precisamos desses modelos superiores, justamente porque eles são, na verdade, uma “aristocracia do rebotalho”, cuja única função é ficar à margem da existência porque é A Coroa que está em primeiro lugar. Não é por acaso que a última imagem da série é a Rainha Elizabeth caminhando sozinha pela Abadia de Westminster. A arte de ser uma estadista - pois foi isso que a monarca foi - é sobretudo suportar a grandeza do seu ofício não como um perpétuo sacrifício, mas sobretudo como um dever e uma honra. Obviamente, a imprensa não entendeu nada disso. Os jornalistas de cultura - e seus gêmeos devassos, os influenciadores - estão mais preocupados com a mesquinharia do que com a nobreza de espírito. Daí a recepção medíocre em relação a The Crown. E a ironia é que, no anseio ser uma elite que substitua de forma patética essa aristocracia, o jornalismo ainda não percebeu que só imita a ralé. Quem quiser colaborar com o meu trabalho, além do valor da assinatura desta newsletter pessoal, pode me ajudar por meio do pix: martim.vasques@gmail.comE quem quiser apertar o botão abaixo só para fazer a minha felicidade - e manter essa newsletter de modo mais profissional, be my guest: *** AVISO: NOVO CURSO - ALÉM DO ZEROUM NOVO TRECHO LOGO ABAIXO:Queridos leitores: Temos um novo curso ALÉM DO ZERO - VIVENDO NA RELIGIÃO DA TECNOLOGIA. Trata-se de um prosseguimento do assunto que abordei no meu curso anterior, De Zero a Nero - O que Shakespeare ensinou a Peter Thiel sobre os rumos da liderança, que você pode adquirir aqui. Serão seis aulas, de 30 minutos a 1 hora de duração. Aqui vão os temas abordados: O curso é também uma reflexão sobre certas obsessões minhas e que me acompanham desde a época do meu primeiro livro, Crise e Utopia - O Dilema de Thomas More (2012), indo até A Disciplina do Deserto, minha obra derradeira. Ambos os livros serão lançados juntos em 2026, se os deuses do mercado editorial permitirem. Dito isso, chegamos ao grande momento: Quanto custará o curso?E a resposta é: Você decide.Isso mesmo: Quem determinará o preço será você, não eu.Veja os temas que serão abordados. Veja a qualidade gráfica do material promocional. Veja o seu interesse. Veja como isso pode te ajudar na sua vida pessoal e pública. E aí você envia o valor no PIX abaixo:martim.vasques@gmail.comAssim que fizer o pagamento, mande uma mensagem no mesmo endereço acima (vou reforçar: martim.vasques@gmail.com), com o assunto escrito da seguinte forma - CURSO ALÉM DO ZERO -, e eu vou lhe enviar um link com acesso, também por e-mail, a uma pasta especial no Google Drive, onde haverá todo o material disponível do curso (é importante reforçar que é bom ter uma conta no Google). Observação importante: Não haverá reembolso no valor a ser pago (e se alguém precisar de Nota Fiscal, posso providenciá-la sem problemas, desde que me informe todos os dados necessários). (Pediria também a paciência de me dar um prazo de 24 horas para responder, pois sou “o exército do eu sozinho” nesta empreitada) Qualquer dúvida, é só conversar comigo por e-mail ou via DM do Substack. Agora a única coisa que posso lhes dizer é: obrigado pela confiança no meu trabalho - e eu espero que consiga cumprir as expectativas. Um forte abraço do MVC You're currently a free subscriber to Presto. For the full experience, upgrade your subscription. |
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quarta-feira, 24 de dezembro de 2025
A Coroa Solitária
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