Há um padrão na retórica da militância sindical ligada ao petismo: acusar, distorcer e inverter a realidade para sustentar um projeto político que precisa de inimigos constantes. O mais recente episódio veio de Marcel Barros, ex-diretor da Previ, sindicalista histórico da Contraf-CUT (braço sindical do PT) e atual presidente da Anapar — entidade que representa participantes de fundos de pensão. No jornal Ação, publicação da ANABB (Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil), Barros disparou contra o agronegócio, afirmando que o setor “trabalha contra a sociedade” e “não paga suas contas”. O pretexto? Mudanças na metodologia do Conselho Monetário Nacional que alteraram a forma de contabilizar provisões de crédito rural. Para Barros, isso seria prova de inadimplência sistêmica e irresponsabilidade. A acusação não resiste a dois minutos de análise minimamente honesta. O agronegócio brasileiro é um dos maiores geradores de riqueza, empregos e divisas para o país, sustentando boa parte do PIB e da balança comercial. É também o setor que mais investe em tecnologia e produtividade, justamente para manter-se competitivo em um mercado global altamente exigente. Colocá-lo como vilão é ignorar deliberadamente dados objetivos para reforçar um discurso ideológico. Essa tática tem história. Desde os anos 1980, parte do sindicalismo e da esquerda partidária construiu uma narrativa na qual a produção agropecuária, especialmente quando vinculada a exportações, seria uma inimiga da “soberania nacional” ou da “justiça social”. Trata-se de uma reedição tropicalizada da luta de classes, em que o campo é apresentado como reduto de “latifundiários predatórios” e “exploradores do povo”, enquanto movimentos alinhados ao partido se colocam como guardiões do bem comum. Ao transformar o agronegócio em inimigo, abre-se caminho para medidas de controle, tributação extra e intervenção estatal, sempre justificadas por suposta defesa do interesse público. No entanto, quem mais sofre com a desconfiança e a insegurança jurídica criadas por esse tipo de retórica são os pequenos e médios produtores, que não dispõem da mesma capacidade de absorver perdas que grandes conglomerados. A fala de Barros também expõe outro aspecto: o uso de cargos e entidades representativas para atacar setores estratégicos da economia. A Anapar e a ANABB deveriam se concentrar em defender os interesses legítimos de seus associados e participantes, não servir de palanque para disputas político-partidárias. Quando isso acontece, o prejuízo é duplo: para a credibilidade das instituições e para a confiança de quem depende delas. Por trás das palavras, existe uma engrenagem. É a mesma que, desde a ascensão do PT ao poder, tentou colocar sob sua influência fundos de pensão, bancos públicos, empresas estatais e conselhos estratégicos. O objetivo não é apenas ideológico — é também econômico. Dominar a narrativa sobre setores-chave como o agro permite justificar políticas que concentram poder e recursos nas mãos de quem comanda o projeto. O ataque ao agronegócio não é um incidente isolado, mas parte de um manual. Um manual em que o adversário é sempre pintado como ameaça à sociedade, a economia é usada como campo de batalha ideológica, e a retórica serve como cortina de fumaça para ampliar a intervenção do Estado onde for conveniente. O que se vê no caso de Marcel Barros é apenas mais uma página dessa velha cartilha. A pergunta que fica é: a quem interessa enfraquecer o agronegócio? Certamente não à população que depende de alimentos acessíveis, nem às cidades cujo comércio e serviços giram em torno da renda gerada pelo campo. Interessa, isso sim, a quem lucra politicamente com a criação de inimigos internos e a centralização de poder em estruturas que não produzem riqueza, apenas a redistribuem — de cima para baixo, de dentro para fora. No fim, a cruzada contra o agro não é sobre inadimplência ou responsabilidade social. É sobre controle político. E enquanto aceitarmos que ideologia se sobreponha à realidade econômica, continuaremos a ver o Brasil desperdiçar oportunidades históricas em nome de narrativas convenientes. Atualmente, você é um assinante gratuito de Não É Imprensa. Para uma experiência completa, atualize a sua assinatura. |
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terça-feira, 12 de agosto de 2025
#GolpeNoAgro
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