O livro “Ensaio sobre a cegueira” do escritor português José Saramago
e recentemente levado às telas pelo diretor brasileiro, Fernando
Meirelles, é uma metáfora extremamente lúcida da incapacidade humana em
construir laços de solidariedade, mesmo diante de uma tragédia comum.
Saramago relata com bastante sensibilidade como as pulsões mais
instintivas e/ou bárbaras corroem uma sociedade pautada no desprezo à
vida e ao seu semelhante. Uma explosão anômica sem precedentes, que não
escolhe grupo social, gênero ou etnia.
A lógica da “cegueira humana” se configura, nesta
direção, na incompreensão coletiva de como se engendram todas as formas
de exploração de homens, mulheres e crianças; o porquê de existir tanta
desigualdade social e concentração de renda; e a naturalização da
violência em suas dimensões física e simbólica. É esta mesma cegueira
que inviabiliza lutas sociais mais consistentes; que lança à margem
àqueles/as que nunca terão acesso ao processo de escolarização e, que
por esta mesma razão, correm o risco de serem inempregáveis e mais
propensos à indigência.
Contraditoriamente, combatemos exaustivamente...
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