"O medo bateu à porta. A fé atendeu. Ninguém estava lá." – Provérbio inglês
Talvez você tenha estranhado o título do artigo desta semana, mas ele está correto. A reflexão que proponho hoje é exatamente esta: como vencer o que ainda não aconteceu?
"Ora, se a situação ainda nem sequer ocorreu, por que tenho de vencê-la?", você certamente perguntará. Será que estou falando de algo mítico, mágico? Não mesmo. Refiro-me a um tipo de batalha que todos nós travaremos em vários momentos da vida: a batalha contra o medo.
O desconhecido induz ao receio. É algo que todos temos em comum, a diferença está apenas na intensidade. Há o medo do ridículo, da rejeição, do fracasso. Há o medo de errar, de ser julgado, de perder tempo e dinheiro. Acredite: há o medo até mesmo do sucesso, do status, da vitória. O medo, ao mesmo tempo em que é um mecanismo de autodefesa – pessoas sem nenhum tipo de receio seriam imprudentes a ponto de colocar a vida em risco à toa –, também deixa muitos de nós estagnados.
É previsível que um empreendedor tema investir em uma ideia se o momento é de intranquilidade, como o que o Brasil vive há anos (alguns dizem que desde sempre). Da mesma forma, não é nada surpreendente alguém, começando agora a estudar algo completamente novo, ter medo de não absorver tanta novidade. Se o prazo para isso for curto, como costuma ser no caso dos concurseiros, a preocupação aumenta na mesma proporção.
Perceba que o medo não é do presente, mas do futuro. O empreendedor e o concurseiro não temem o que está acontecendo agora, mas as previsões para um futuro mais ou menos próximo. Todos os nossos medos baseiam-se na possibilidade de algo ruim vir a acontecer. Contudo, por mais estranho que pareça, temos como usar essas inseguranças a nosso favor. É sobre isso nossa conversa de hoje.
Esse foi, aliás, o conselho dado pelo professor Rolando Valcir, em entrevista publicada no canal Imparável. O ex-borracheiro e atual Juiz Federal, protagonista de uma incrível história de vida, respondeu o seguinte quando lhe pedimos uma dica amiga a quem estivesse pensando em desistir: "As pessoas veem o medo como um elemento negativo, e eu [o] vejo como um elemento positivo. Por quê? Porque, ao mesmo tempo que ele faz a gente ter os pés no chão, induz a pensar como é que eu vou conseguir chegar ao ponto de destino. As pessoas precisam compreender que o medo de fracassar, o medo de não dar certo, a frustração, tem que existir para que a gente consiga saber o que precisa ser feito para superar isso".
Em resumo, o bem-sucedido ex-concurseiro nos ensina que o medo pode nos ajudar a encontrar nosso rumo. O que devemos questionar, então, é: "Se tenho medo de não aprender, o que preciso fazer para aprender?" "Se temo ficar sem dinheiro, o que preciso fazer para ter dinheiro?" "Se receio não conseguir algo, o que tenho de fazer para me superar e alcançar meu objetivo?" Respondendo a questões como essas, dominamos o medo e o usamos como impulso para seguirmos em direção ao nosso objetivo.
O problema é quando, ao contrário disso, o medo nos paralisa. O escritor castelhano Miguel de Cervantes é autor de uma bela frase sobre isso: "Um dos efeitos do medo é perturbar os sentidos e fazer que as coisas não pareçam o que são". Podemos até não nos dar conta, mas com frequência sucumbimos aos nossos temores, que se tornam o principal obstáculo em nossa jornada. E é nesse contexto que retomo minha pergunta original: qual é a única arma com a qual podemos vencer o que ainda não ocorreu, ou seja, o medo do futuro?
Na minha opinião, é a fé, e esclareço que não me refiro a nenhuma religião em específico, nem mesmo à crença no divino. Embora eu seja cristão, estou me referindo à fé no sentido mais amplo da palavra; aos conceitos de acreditar, confiar, mesmo sem ver. Se você tiver fé de que as coisas darão certo, se acreditar em sua própria capacidade, seus medos perderão todo o poder de paralisá-lo.
Veja bem: longe de mim defender a ideia de que não devemos temer o perigo. Esse medo é normal e até salutar. Defendo, sim, que devemos avançar apesar do medo ou até mesmo usando-o a nosso favor. Devemos converter a influência negativa dele em positiva. E, sim, isso é possível.
A primeira atenção que precisamos ter é em relação ao escapismo e ao autoboicote. Se há algo capaz de nos afastar dos nossos sonhos e desejos, é a tal desculpa. É inventando desculpas que deixamos de agir, que nos recolhemos, amedrontados, temerosos de mais humilhação, fugindo do fantasma da rejeição e nos escondendo da sensação de inutilidade. É afundando em desculpas, enfim, que desistimos de tentar.
Entra em cena, então, o autodomínio. Quem não domina a si próprio jamais ultrapassará a linha do medo. A falta de controle sobre si mesmo é a forma mais cruel de indefinição. Você só encontrará o que procura se fizer uma pausa e sondar a própria alma, com paciência e determinação. E, por favor, amigo leitor, não busque a resposta muito longe, pois ela está próxima: "Nenhum lugar onde se possa ir é mais tranquilo, mais livre de interrupções do que sua própria alma", diria o imperador romano Marco Aurélio.
Como o Dr. Rolando me ensinou com sua "Teoria da régua", o ser humano tenta mensurar tudo: a quantidade de dinheiro, a altura, o tamanho da casa... Entretanto, não há como mensurar conhecimento. Até tentamos, por meio de uma prova de concurso, por exemplo, fazer a aferição mais justa possível do conhecimento que um candidato tem num dado momento. O método é perfeito? Não, mas é o mais próximo do ideal que existe. Diante disso, é normal, ao longo dos estudos, o candidato jamais se sentir pronto e conviver com o medo de não haver aprendido o suficiente.
Dr. Rolando conta que, mesmo hoje, já atuando como Juiz Federal, às vezes não se sente a pessoa mais apta para o cargo. Se é assim até depois da posse, não pode ser diferente nas etapas anteriores. Na véspera da prova, alerta, sempre aparecerá uma teoria do "Pirilampo" – ou outro nome tão estranho quanto – que alguém menciona, e você, ou desconhece por completo, ou não estudou com a profundidade que gostaria.
Os dias de preparação são imperfeitos, concurseiro, mas funciona assim com todos os candidatos, e não só com você. É a constância, fortalecida pela fé, pela crença de que é, sim, possível, e recorrendo ao medo como instrumento de motivação, que vai levar você ao destino mesmo você se sentindo longe da perfeição. Ninguém sabe de tudo. Há etapas a serem vencidas, em um processo de maturação que se aplica a todo mundo. "Quando o processo chega ao final, vem a aprovação", sintetiza Valcir. Não destrua sua autoconfiança enquanto o seu processo não termina.
O medo faz parte do percurso. Em qualquer estrada, haverá barreiras. Se você conseguir notá-las a tempo, provavelmente conseguirá desviar. Se, porém, for pego de surpresa, não esmoreça. Enfrente o desafio com fé, guardando o medo no bolso. Nelson Mandela dizia que a coragem não é a ausência do medo, mas o triunfo sobre ele. De fato, quando o medo é fator de paralisia, mostra-se extremamente prejudicial; quando é dominado, serve de estímulo para não nos acomodarmos, para querermos fazer mais e melhor, para sairmos da nossa zona de tranquilidade e previsibilidade. Afinal, qual seria a graça da vida sem um friozinho na barriga de vez em quando?
Saiba que tenho empatia com a sua luta, concurseiro. Não por outra razão, meu conselho é: identifique os seus medos e use-os como norte. Não os elimine de vez. Em vez disso, guarde-os como trunfo, como lembrança do que é preciso fazer a seguir. Tudo que o medo pretende é isto: que não avancemos. O papel dele é nos fazer parar, mas confio que você jamais cederá a isso.
Assuma a sua história e escreva um belo final para ela! O capítulo derradeiro ainda está em branco.
Sigamos, juntos, apesar do medo, e usando-o como fortaleza!
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